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11/07/11 | 10:34h (BSB)

"Aracaju está deixando de prevenir um caos ainda maior no trânsito"

Especialista em transporte/trânsito Antônio Marchezetti alerta ainda: planejamento no futuro será mais caro

Por Raissa Cruz

 

O engenheiro civil especialista em Transporte Público e Trânsito, Antônio Carlos Marchezetti, que já realizou estudos sobre o trânsito de Aracaju, afirmou nesta entrevista ao Universo Político.com que a capital sergipana pode sofrer um caos ainda maior com congestionamentos se não investir agora na mobilidade urbana. O especialista esteve em Aracaju na última quinta-feira a convite do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Aracaju (Setransp), que, defendendo um plano de mobilidade urbana, aperfeiçoou seus conhecimentos com as orientações concedidas por Marchezetti. Somando agora 27 anos de atuação na área do transporte público, Marchezetti participou do planejamento do trânsito de Curitiba, a cidade modelo em mobilidade urbana no país, e como consultor em transporte atuou em mais de duzentos municípios do Brasil e ainda em onze países - entre eles EUA, México, Colômbia, Indonésia, Argentina, Chile, Peru, Angola. Hoje o especialista alerta o Município da Aracaju: "o plano que tem aqui não se sustenta por mais cinco ou dez anos". Confira:

 

Universo Político.com - Daquilo que o senhor já pesquisou sobre o trânsito em Aracaju, o que o senhor destacaria como principal que deveria já ter sido colocado em prática para contribuir com a mobilidade urbana?
Antônio Marchezetti -
Nos estudos que realizamos nos anos de 2008 e 2009, ouvindo quarenta mil usuários de ônibus, e identificando os destinos e os pontos de origem destes usuários, usando um software canadense, identificamos necessidades imediatas que precisaram ser aplicadas pelas empresas de ônibus. Muitas foram aplicadas. Mas as medidas que se refere ao trânsito em si, que devem ser aplicadas pelo poder público, ainda não foram viabilizadas - que seriam os corredores para ônibus, vias prioritárias, paradas de ônibus com embarque pré-pago, e outras. Então agora é um momento correto para isso. Só que aqui se fala mais em licitação. Mas o que vai se licitar? O que tem aqui não se sustenta por mais cinco ou dez anos. Tem que haver um projeto básico que diga o que vai acontecer no transporte nos próximos dez ou vinte anos, para sinalizar para a iniciativa privada quais são os investimentos necessários para se ver o transporte como horizonte futuro. Mas para licitar o que tem ai hoje não dá. Muitas pessoas já estão mudando até para o transporte individual. Tem que se licitar algo que pelo menos seja algo competitivo.

 

U. P. - Aqui como basicamente os ônibus circulam por toda grande Aracaju, no caso quatro Municípios, teria que se pensar em uma licitação integrada, não é?
A. M. -
Sim. A coisa pode ser gradual. O projeto começaria primeiramente por Aracaju, que tem 70% das linhas, e, por tanto, deve fazer sua lição de casa, seu Plano Diretor, e posteriormente as linhas dos outros Municípios. Isso aconteceu em Curitiba, que acabou de licitar, em 2010, o transporte coletivo em toda área urbana integrando com a metropolitana, que deve ser licitada ainda em 2011 para 2012, mas para o passageiro não houve prejuízo.

 

U. P. - É verdade que para esse investimento Curitiba se utilizou de financiamentos previstos pelo Governo Federal, em bancos nacionais, que podem, do mesmo modo, financiar outras capitais, como Aracaju?
A. M. -
Sim. Existem linhas de crédito nacionais, do governo federal, que estão disponíveis para financiar este serviço. Agora é preciso ter projetos para isso. Para o Ministério das Cidades, o item básico para o projeto ter esse investimento é ele prever corredores exclusivos para o transporte coletivo, porque isso propicia a mobilidade sustentável - é mais gente sendo transportada, em um lugar que haverá retorno. Então, em Aracaju, a primeira coisa a se pensar seria onde ficariam esses corredores. Mas pensando na cidade como um todo, para não inviabilizar outras formas de transporte. Se Aracaju tiver um projeto voltado mesmo para o transporte público, com certeza conseguirá o financiamento.

 

U. P. - De acordo com sua prévia análise aonde poderiam ficar esses corredores? Porque muito se fala na dificuldade de dividir as vias da capital para os corredores para ônibus, quando a cidade já vive em congestionamentos. No caso mais carros em uma via só, seria menos mobilidade.
A. M. -
Vou dar um exemplo: na Rua da Frente, (av. Ivo do Prado) passam 3,5 mil passageiros nos ônibus em horário de pico. Se esses passageiros estivessem de moto ou carro, seriam 3,5 mil veículos trafegando ali. O trânsito estaria muito mais congestionado. Então o transporte coletivo já resolve uma boa parte dos possíveis congestionamentos. O que temos que pensar é aonde é necessário, mas mantendo a cidade viável. E ver também a questão de uma melhora integração entre os terminais. Na verdade, é preciso se analisar qual a necessidade do usuário de ônibus sobre o serviço do transporte, porque transporte mobiliza pessoas e não ônibus. E outra coisa, hoje nós temos programas modernos de computador que nos indicam, com 95% de índice de acerto, aquilo que pode acontecer se a gente tomar a medida A, B, ou C. Então tem como se prever isso.

 

U. P. - Reclamando dos atrasos e dos ônibus cheios, as pessoas cobram um aumento na frota, mas as empresas alegam que fica difícil viabilizar mais ônibus se os que estão circulando já sofrem com os congestionamentos e isso prejudicaria também a população. Como o senhor avalia essa questão?
A. M. -
Isso tem acontecido basicamente em todo país por conta do aumento da motorização. À medida que se aumenta o congestionamento, baixa a velocidade de circulação. Para se manter a mesma frequência, se coloca mais ônibus. Mas isso acaba gerando um círculo vicioso, porque vai se aumentar o congestionamento de novo. O que é preciso é fazer com que os ônibus andem. Então pelo menos tem que se cumprir o que está previsto pelo Código de Trânsito, que é priorizar o pedestre, o ciclista e depois o transporte público.

 

U. P. - O senhor acha que Aracaju está perto de precisar de rodízio de carros?
A. M. -
Para uma cidade com pouco mais de meio milhão de habitantes é um pouco cedo para se falar sobre isso. Mas com certeza é um bom momento para o Município tomar medidas que possam anteceder esse caos. Muitas cidades do Brasil já precisam disso. São Paulo já utiliza o rodízio, e Salvador pode estar caminhando para isso, porque está em uma situação caótica. Eu vi em Aracaju alguns pontos que para o tamanho da cidade são bastantes críticos. Então tem que se oferecer alternativas para as se deslocarem: a mais viável seria o transporte público, mas para isso é preciso investimento no serviço. Mas se não fazer nada, a situação difícil só tende a piorar.

 

U. P. - Pelas experiências que o senhor adquiriu em outras capitais onde os gestores adotaram essa visão de investir no serviço do transporte público e se preocupar com a mobilidade no trânsito, o senhor diria que em Aracaju há uma morosidade por parte do poder público no que tange essa questão?
A. M. -
Aracaju, pelo menos está perdendo um tempo que deveria estar sendo usado para prevenir um caos maior no trânsito. Por exemplo, em Londrina, a terceira cidade da região sul do Brasil e um pouco menor que Aracaju, a prefeitura colocou os corredores de ônibus, restringindo o estacionamento em alguns pontos para transformar em corredores de ônibus. Uma medida emergencial que é adequada ao tamanho da cidade. Futuramente pode ser aplicado algo mais lá. Mas pelo menos em Londrina começou a se olhar para a mobilidade. Em Aracaju algo também precisa ser feito. O que não pode é ficar como está. Se não forem tomadas providências, pode ser que nos próximos cinco ou dez anos a situação esteja bem mais crítica. E pode ser que o custo para aplicar as medidas no futuro fique muito mais caro. Teria que se desapropriar prédios, shoppings, construções.

 

U. P. - A Câmara de Vereadores está analisando a revisão do Plano Diretor, mas no projeto ainda não há pontos que destaquem o cuidado para com a mobilidade urbana. Para o senhor o que isso o que isso representa?
A. M. -
Não mencionar a mobilidade urbana no Plano Diretor pode gerar um prejuízo muito grande para a capital. É não pensar no trânsito e no serviço do transporte público, que é um serviço essencial como qualquer outro. A capital precisa no mínimo de um Plano de Mobilidade Urbana, então discutir essa questão no Plano Diretor já um grande primeiro passo, porque é preciso planejar o trânsito para que possa comportar a motorização que só tende a crescer na cidade.

 

Da redação Universo Político.com



18-05-2024
 

 

 

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