Na Política

Biblia Online

23/03/11 | 13:11h (BSB)

A usina e a bomba

 

 

Mais de meio século se passou e o Japão ainda chora os mortos de Hiroshima e Nagasaki. Centenas de milhares de pessoas mortas imediatamente ao impacto de duas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre as populações daquelas duas cidades num intervalo de três dias.  E aproximadamente meio milhão de mortos nos anos seguintes, vítimas dos efeitos da radiação.

 

Vítima e algoz, Japão e Estados Unidos se alinharam politicamente no pós-guerra, e, apesar dos equívocos em que um e outro incorreram durante o conflito, ambos extraíram do episódio uma inestimável lição: o uso da energia nuclear para fins pacíficos, não obstante os riscos inerentes à atividade, é uma necessidade ditada pelos imperativos de desenvolvimento econômico e sustentabilidade, ao passo que o uso de energia nuclear para fins militares, não obstante a necessidade ditada por questões de segurança nacional e interesses geopolíticos e geoestratégicos, é uma armadilha que a humanidade criou para si própria e que um dia poderá levá-la à extinção.

 

Se a bomba nuclear, por tudo o que representa, é uma estupidez, o uso da energia nuclear para fins pacíficos constitui uma das maiores conquistas da ciência. Sem as centrais nucleares instaladas nas últimas décadas, países como França, Alemanha, Suíça, Suécia e Japão já teriam regressado à Idade Média. Por isso, convém analisar com bastante reserva os discursos e manifestações que têm por objetivo demonizar a energia nuclear, isto é, seu uso para fins pacíficos.

 

Com efeito, aqueles jovens universitários rebeldes, aquelas senhoras com cartazes nas mãos, aqueles senhores inflamados que aparecem no noticiário fazendo protestos na Europa contra a implantação de usinas nucleares, quando colhidos pelo rigoroso inverno do Hemisfério Norte, não vão para suas casas, como antigamente, acender suas lareiras com a lenha cortada na floresta; eles vão, isto sim, para o conforto dos seus apartamentos, das suas casas aconchegantes, onde há aquecedores movidos a energia gerada numa dessas usinas nucleares, a mesma que alimenta shoppings, escritórios, indústrias,  restaurantes, cinemas, escolas, hospitais, enfim, tudo aquilo que é essencial para a vida em sociedade.

 

Energia nuclear é, portanto, coisa de Primeiro Mundo, queiram ou não os profetas do apocalipse. Aliás, coisa de Terceiro Mundo é ficar desmatando florestas e inundando áreas agriculturáveis para construir usinas hidrelétricas; coisa de Terceiro Mundo é implantar horário de verão para infernizar a vida das pessoas para economizar alguns megawatts ao final; coisa de Terceiro Mundo é apoiar o programa nuclear de um país como o Irã, governado por um assassino do quilate de Mahmoud Ahmadinejad, cujo maior desejo é lançar uma bomba atômica sobre Israel.

 

Ser a favor ou contra a instalação de centrais nucleares no Brasil é algo absolutamente irrelevante. O foco não deve ser esse. Primeiro, é necessário discutir com transparência os números sobre as nossas necessidades de consumo de energia hoje e nas próximas décadas. Segundo, verificar se mesmo com a tão propalada alteração da matriz energética brasileira – aproveitando-se mais outros tipos de energia, como a eólica, a solar e a biomassa - supriremos, e em quanto tempo, nossas necessidades de consumo. Somente a partir daí seria razoável se discutir a questão da implantação das usinas nucleares.

 

Mas, como não somos estúpidos, reconheçamos logo que os estudiosos do setor energético, a presidente Dilma Rousseff à frente, já ultrapassaram esse estágio e chegaram à conclusão de que, sem as centrais nucleares, em breve mergulharemos num novo período de trevas. Nesse caso, não nos restará senão exigir dos órgãos governamentais a máxima transparência possível em relação à questão. Pois, quanto mais transparência houver, mais segura e menos alarmada estará toda a sociedade. E que ninguém se iluda: apesar de Chernobyl e Fukushima, não há como frear o processo, daí a importância de se adotar um postura mais crítica e menos infantil em relação ao assunto.     

 

 

 

Paulo Márcio é colunista do portal Universo Político.com

E-mail: paulomarcioramos@oi.com.br

 

  

 

 

 

 

 

 



17-05-2024
 

 

 

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