Na Política

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09/03/14 | 21:49h (BSB)

As vísceras expostas do PT

A tão propalada unidade do PT, ao reverso do que asseveram seus militantes por meio da imprensa ou de material de publicidade feito sob encomenda para incautos, resulta quase sempre da imposição da corrente dominante sobre as menores (o partido é um balaio de gatos), ficando em segundo plano o debate em torno de ideias e programas. Numa palavra: quem tem mão de ferro e prestígio dita as ordens no PT. Herança stalinista? Sim, como quase tudo nos partidos de esquerda. Esse papo de democracia interna é coisa para inglês ver.

 

O deputado federal Rogério Carvalho, atual presidente do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores, foi praticamente ungido pelo saudoso líder petista Marcelo Déda, que, ao nomeá-lo para o cargo de secretário municipal de saúde em sua primeira gestão à frente da prefeitura de Aracaju, enxergou no médico com perfil de executivo e ideias aparentemente inovadoras um dos quadros mais promissores da legenda. Tanto isso é verdade que, em 2006, Rogério elegeu-se deputado estadual com o apoio ostensivo de Déda, a ponto de se especular teve seu voto pessoal. Feito governador pelo voto popular na mesma ocasião, Marcelo Déda confiou ao seu pupilo a pasta da saúde estadual.

 

É público e notório que a gestão de Rogério à frente da Secretaria de Estado da Saúde não obteve de Déda a mesma aprovação dos tempos da administração municipal. Disputas internas, denúncias de supostas irregularidades e um caos generalizado numa das áreas mais sensíveis do governo – a despeito do vultoso investimento feito na rede física -, acabaram por corroer o prestígio do secretário e, por consequência, do governador em campanha de reeleição. Após uma vitória apertada contra João Alves Filho (DEM) na sucessão de 2010, o governador veio a público declarar que, doravante, a Saúde teria dois secretários, sendo ele o primeiro, e o segundo, por dedução, qualquer pessoa minimamente qualificada, contanto que não fosse Rogério, cuja tábua de salvação foi a eleição para deputado federal no mesmo pleito.

 

Fritado publicamente pelo governador, só restava a Rogério duas alternativas, como antecipei no artigo Rogério Carvalho e as reflexões para além do Natal, publicado aqui no aqui no Universo em 22/12/2010: “Para sobreviver politicamente dentro do PT, Rogério só tem duas opções: buscar uma reaproximação com Marcelo Déda, convencendo-o de que é o melhor nome da legenda para disputar a prefeitura de Aracaju em 2012, ou colocar-se como alternativa ao governador dentro do partido, aglutinando nomes como Robson Viana, Ana Lúcia e Iran Barbosa, também ressentidos com Déda”.

 

Como que seguindo minhas orientações (aviso aos navegantes: a consulta foi informal, por isso não cobrei honorários), Rogério tentou não um, mas, sucessivamente, os dois caminhos por mim apontados. Primeiro, reaproximou-se de Déda, ganhou as prévias de 2012, mas teve que ceder (leia-se: foi obrigado) a candidatura a prefeito de Aracaju para o deputado federal Valadares Filho, opção do então governador para fortalecer a aliança com o PSB do senador Valadares e atender ao pedido do então prefeito Edvaldo Nogueira (PC do B), cujo santo nunca bateu com o de Rogério. Assim, queimado em 2010, preterido em 2012, no ano passado Rogério resolveu apostar todas as suas fichas na disputa pelo comando interno do partido. Pragmático e alheio ao clima de comoção em torno da doença do governador, lançou seu nome à presidência do PT estadual concorrendo com o deputado estadual Márcio Macedo, candidato “in pectore” de Marcelo Déda, levando o PED ao segundo turno. Surpreendendo a todos (menos a mim, evidentemente, que previra o fato no Natal de 2010), somou forças com Ana Lúcia e Iran Barbosa (Robson Viana já havia deixado o PT), desde sempre insatisfeitos com a condução de Marcelo Déda, e impôs uma fragorosa derrota a Márcio Macedo e companhia. Traição? Não, amigos, política pura, nos moldes propostos por Maquiavel há alguns séculos.

 

A vitória de Rogério Carvalho, sobretudo sua aliança com Ana Lúcia, abriu uma crise sem precedentes no PT sergipano. Os herdeiros de Déda, ao mesmo tempo em que o acusam de ter se aproveitado da doença do ex-governador para dar uma espécie de golpe e apropriar-se do Diretório Estadual, tentam impor a candidatura da ex-primeira dama Eliane Aquino para o Senado da República na chapa capitaneada por Jackson Barreto (PMDB).

 

Sem querer entrar no mérito quanto à regularidade da filiação de Eliane (parece-me que esse imbróglio vai desaguar necessariamente no TRE), uma coisa é certa: Rogério Carvalho só não será o candidato do PT ao Senado nas próximas eleições se as pesquisas indicarem que não há possibilidade mínima de vitória. Nesse caso, ele certamente deve tentar a reeleição para a Câmara Federal e, por conveniência (aquilo que eles eufemisticamente chamam de unidade), permitir uma candidatura de Eliane ao Senado, desde que fique comprovado que não há irregularidade em sua filiação.

 

Mas, convenhamos, Rogério Carvalho, a despeito do seu ego inflado e uma postura próxima da arrogância, é um grande estrategista político – talvez o melhor em atividade no campo da esquerda sergipana. E ele sabe, mais do que ninguém, que qualquer ato que venha a fortalecer o grupo hoje liderado por Márcio Macedo importa em diminuição da sua força no partido. E perder força significa perder, a curto ou médio prazo, o comando da sigla. De modo que os herdeiros de Déda, gostem ou não, devem seguir o exemplo de Rogério: reconhecer a derrota, reorganizar as forças e elaborar uma estratégia para reconquistar a hegemonia no partido. Não é por meio de dramas nem apelando à emoção, por exemplo, explorando a memória de Marcelo Déda, que o conseguirão. Por enquanto, só lhes resta aceitar as decisões do novo comandante, assim como os cubanos acatam as decisões dos irmãos Castro há décadas.

 

 

PAULO MÁRCIO é Delegado de Polícia Civil desde 2001. Especialista em Gestão Estratégica em Segurança Pública (UFS) e em Direito Penal e Direito Processual Penal (Fase).  Foi Presidente do Sindepol-SE, Superintendente de Polícia Civil de Sergipe, Corregedor Geral de Polícia Civil. Atualmente é titular da 5ª Delegacia Metropolitana. É colunista do portal Universo Político.com E-mail paulomarcioramos@oi.com.br 



20-04-2024
 

 

 

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