A despeito dos erros grosseiros e das inconfessáveis fraudes em que vez ou outra incorre algum instituto, o certo é que as pesquisas – sejam elas qualitativas ou quantitativas – tornaram-se ferramenta imprescindível em qualquer processo eleitoral. Sobretudo em cenários de acirrada competitividade - onde um passo em falso pode significar a derrota nas urnas -, definir candidaturas, montar estratégias, elaborar programas, compor alianças, tudo, absolutamente tudo, é planejado com base nas informações captadas junto ao eleitorado.
Tamanha é a sua importância, que as pesquisas eleitorais só podem ser divulgadas se previamente registradas no TSE ou no TRE, conforme o caso, à exceção daquelas realizadas para "consumo interno". A medida tem por escopo garantir a lisura e a transparência dos trabalhos realizados. Pois, acima de tudo, é necessário manter a salvo da voracidade de grupos políticos o próprio regime democrático, do qual o voto livre e consciente é, ao mesmo tempo, pilar e corolário.
É evidente que, não obstante as imposições legais, sempre há margem para manobras rasteiras e imorais. E, o que é pior, mesmo nas hipóteses de fraude ou manipulação dos números – e lamentavelmente isso ocorre com bastante frequência -, na prática torna-se difícil, quando não impossível, apurar os desvios, malabarismos e contorcionismos dos dados feitos em favor deste ou daquele candidato.
Como explicar, por exemplo, o samba dos institutos doidos no atual processo de sucessão presidencial? Como explicar tantos desencontros nos números apresentados pelos institutos no mesmo espaço de tempo? Não tem explicação. É algo tão surreal quanto o segundo sol da visão de Nando Reis. A diferença é que, por aqui, quem vai ardendo em chamas é a democracia e todos os seus princípios e postulados. Ou a sociedade reage a essa desordem, ou, em pouco tempo, não passaremos de um monte de cinzas, ruínas e ferragem retorcida. Numa palavra: escombros de democracia.
Honestamente, não vejo outra solução senão a instalação de uma CPMI no Congresso Nacional para apurar toda essa bandalheira. Das duas uma: ou se passa a limpo toda essa história mal contada que põe em risco o regime democrático, ou se proíbe de uma vez por todas a divulgação de pesquisas de intenção de voto – e aqui, infelizmente, o justo paga pelo pecador. Mas não existe meio-termo. Assim como não existe meia-democracia.
Paulo Márcio é delegado de Polícia Civil, graduado em Direito (UFS), especialista em Gestão Estratégica em Segurança Pública (UFS), especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal (Fa-Se) e colunista do Universo Político.com. Contato: paulomarcioramos@oi.com.br
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