Na Política

Biblia Online

21/06/13 | 18:14h (BSB)

Há mais interesses por trás das manifestações do que sonha nossa vã filosofia

 

Como a maioria esmagadora dos brasileiros, assisti, surpreso e até certo ponto assustado, às manifestações iniciadas em São Paulo e replicadas em outros centros urbanos país afora, todas elas tendo como principal bandeira a redução das tarifas dos transportes coletivos, porém engolfando causas que vão do combate à corrupção até a reforma agrária, passando pelas críticas aos elevados custos com a Copa do Mundo de 2014 em detrimento da saúde, educação, segurança pública e outros setores de responsabilidade do estado.

 

E é exatamente isso o que mais impressiona. O movimento é acentuadamente caracterizado pela difusão, imprevisibilidade e pluralismo de ideias. Mas me faço a seguinte pergunta: difusão, imprevisibilidade e pluralismo de ideias importam, necessariamente, em algo apartidário, conforme assertiva dos próprios manifestantes e de um sem-número de analistas das mais diferentes áreas de especialização?

 

Lamento ser a mosca na sopa ou a nota dissonante nesse concerto promovido por um grupo de pessoas imbuídas de boa vontade e de fato convictas de que estamos vivendo uma nova era, um tempo de renovação e superação da velha dicotomia direita-esquerda. Não, nós não estamos! Daí a necessidade de precaução contra certo ufanismo e de vigilância para não se deixar levar pelas fortes ondas de emoção e arroubos patrióticos, como se o gigante de quinhentos anos enfim despertasse de seu sono para cumprir seu promissor destino.

 

A primeira mistificação a ser debelada é a de que o movimento é espontâneo e, por isso mesmo, apartidário sem ser antipartidário, como apregoam por aí. Se é verdade que o movimento se agigantou a ponto de suplantar suas motivações e objetivos iniciais, não é menos exato que foi engendrado nos guetos da esquerda mais radical e autoritária de que se tem notícia, abrigada nos bastidores da USP. Uma esquerda jovem e disposta, se preciso for, a queimar seus ídolos ora aboletados no Planalto Central, a fim de assumir o protagonismo na luta política contra a “velha direita”, para ela representada principalmente pelo PSDB, DEM e PMDB.

 

Há de fato um desencanto do eleitor com o governo petista e com aqueles que hoje se colocam como oposição. A uma grande fatia da população não agrada a ideia de um quarto governo do Partido dos Trabalhadores, sobretudo quando a economia começa a declinar, a inflação ameaça retornar para corroer a renda das famílias já endividadas e a corrupção campeia em todos os escalões do governo federal como uma praga de lavoura. Todavia, esse mesmo eleitor ainda hesita em recolocar um tucano na presidência, em parte pelas deficiências havidas no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (que propiciaram a ascensão do lulopetismo), em parte pela habilidosa e estratégica desconstrução do governo FHC levada a efeito pelo PT nos últimos dezoito anos – oito como oposição e dez como governo -, uma lavagem cerebral poucas vezes vista na história do Brasil.

 

Diante dessa pretensa imparcialidade – posto que a neutralidade é, por princípio, inalcançável -, muitos jovens aderiram às manifestações como mariposas atraídas pela luz, sem saber, qual as mariposas, que podem morrer ao contato com essa mesma chama. Ocorre que enquanto a grande massa retorna para a casa com o sentimento de dever cívico cumprido, orgulhosa de ter protagonizado um momento histórico esteticamente sem precedentes, os verdadeiros ilusionistas e manipuladores retornam às suas trincheiras para engendrar novas estratégias, novos movimentos - só que desta feita ungidos como os arautos de um futuro de glórias e grandes transformações.

 

Em outras palavras, é ingênuo acreditar que um movimento dessa magnitude, em que pese a adesão de milhares de pessoas imbuídas dos mais nobres propósitos e ideais – essas, sim, apartidárias e imparciais – não será devidamente apropriado por aqueles que o orquestraram, ainda que a estratégia para tal apropriação e, por consequência, capitalização dos resultados consista exatamente na fala, repetida como um mantra, de que tudo é apartidário, tudo é espontâneo e todas as tribos são bem-vindas. É, com efeito, um discurso que encontra ressonância no inconsciente coletivo, e tanto mais atrativo e perigoso quanto mais dissimuladas as verdadeiras pretensões dos tiranetes recém-saídos das incubadoras e chocadeiras da USP.

 

Esse é o engodo dos verdadeiros líderes, das mãos que balançam o berço. São eles que ditam as pautas e, como censores autoritários que o são, dizem o que pode ou não ser convertido em bandeira de luta. Se uma causa levantada não é do agrado ideológico do Movimento Passe Livre (MPL), ela entra imediatamente para o Índex dos anjos da Pátria de Chuteiras. Foi o caso da defesa da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos de idade. Tida como uma bandeira de direita, uma causa de “reaças”, quem ousou protestar nesse sentido foi hostilizado pelos doces bárbaros e convidado a deixar o movimento “plural” e “apartidário”. E viva a democracia!

 

Da mesma forma, não se ouviu uma só voz em defesa da PEC 300, que visa à criação de um piso nacional para os policiais militares e está engavetada há quase três anos no Congresso Nacional por determinação do Palácio. Afinal, na visão seletiva desses grandes patriotas, a polícia não passa de um instrumento para a manutenção da ordem burguesa e de seu patrimônio. Pelo visto, Marx, Che Guevara e Stálin continuam ditando, do além, o ideário a ser seguido pelos revolucionários do século XXI.

 

O Movimento Passe Livre é o gérmen de uma esquerda pós-Lula – muito mais radical e intolerante do que o modelo plasmado pelo retirante de Garanhuns e estrategicamente escondida por detrás da fachada do bom-mocismo e do politicamente correto. Portanto, ninguém se iluda com umas carinhas bonitas, falas bem articuladas, palavras de ordem magistralmente ensaiadas e algumas vaias à presidente Dilma Rousseff. Mesmo espontâneas, não passam de cortina de fumaça para esconder os reais interesses da rapaziada do MPL. Além do mais, brasileiro, já dizia Nelson Rodrigues, costuma vaiar até minuto de silêncio.

 

 

PAULO MÁRCIO é Delegado de Polícia Civil desde 2001. Especialista em Gestão Estratégica em Segurança Pública (UFS) e em Direito Penal e Direito Processual Penal (Fase).  Foi Presidente do Sindepol-SE, Superintendente de Polícia Civil de Sergipe, Corregedor Geral de Polícia Civil. Atualmente é titular da 10ª Delegacia Metropolitana. É colunista do portal Universo Político.com E-mail paulomarcioramos@oi.com.br  paulomarcioramos.blogspot.com.br 



02-05-2024
 

 

 

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