Por Paulo Márcio
Morri sete vezes de amor
tu não verteste uma lágrima por mim
nem velaste meu corpo frio estirado sobre o catafalco
nem enviaste coroas de flores
acompanhadas de um breve cartão de despedida
também não contrataste velhas carpideiras
para prantear a dor que ninguém sentira
Compus sete canções de amor
me esmerei nas harmonias e melodias
trouxe uma orquestra de Berlim
flautistas de Teerã
um maestro vienense
e um violeiro cego de Quixadá
fui saudado pela crítica como o novo Mozart
um paparazzo morreu eletrocutado em minha cerca
ao tentar me fotografar de pijamas
bebendo um cálice de vinho chileno
tentei obter notícias tuas
o mensageiro eunuco que enviei ao teu templo
retornou e me disse, acabrunhado,
que o silêncio agora é tua religião
e que afora o canto dos pássaros
tudo o mais para ti é inaudível ruído
Não me dei por vencido
fiz incursões na literatura e no cinema
no teatro e na gastronomia
fui artista circense e piloto de automobilismo
sonhando encontrar-te em algum lugar do mundo
esperando-me com um sorriso de saudade e aprovação
até que sobreveio o acidente
que me pôs para sempre nesta cadeira de rodas
De volta à casa vazia
esperei debalde tua visita
meses, anos, décadas se passaram...
e tu jamais entraste por aquela porta
usando o vestido de seda branca
que comprei em Milão como artigo da última moda
entediado, um dia encomendei telas, tintas e pinceis
quis desenhar teu rosto
de todos os ângulos e maneiras
só para revelar ao mundo tua beleza seráfica
mas, ó Deus!, não consegui me lembrar
do contorno dos teus lábios
da cor dos teus olhos
que formato eles têm?
teus cabelos me surgiram
qual medusa desgrenhada
só então me vi triste e cansado
mas não consegui chorar nem dormir
então olhei para minhas mãos
e vi que estava velho como um carvalho
como uma tartaruga solitária das Ilhas Galápagos
e veio caindo a noite
e o frio congelou meus ossos
passei a madrugada inteira contemplando o céu
revi nebulosas, constelações e mil planetas habitados
e, de repente, o desejo irrefreável de tocar aquela estrela rutilante
consumiu o que restava de minha alma.
Aracaju, 19 de abril de 2013
saiba mais
-
21/04 - 22:39 - Volta, Lula!
09/03 - 21:49 - As vísceras expostas do PT
21/01 - 10:17 - O coice democrático do PT e a reação de Valadares
02/12 - 10:33 - Poder de polícia para as guardas municipais
17/11 - 22:21 - Mensaleiros em cana
29/09 - 21:32 - Bons ventos a favor de Eduardo Amorim
21/09 - 09:27 - Do mensalão aos fundos de pensão
17/09 - 19:52 - O voto do decano e o futuro do país
20/07 - 21:40 - Governo e Assembleia: às favas com a coerência
10/07 - 19:29 - A greve geral dos pelegos