O economista, diplomata e político brasileiro Roberto Campos (1917-2001) foi sem sombra de dúvida o maior defensor do liberalismo econômico no país. Dono de uma vasta cultura e de um sarcasmo respeitados até pelos maiores adversários, não poupava na crítica à esquerda: “Quem não é socialista antes dos vinte não tem coração; quem continua socialista depois dos quarenta não tem intelecto”, disse certa feita no clássico programa Roda Viva, arrancando risos e aplausos de alguns jornalistas (com exceção do representante da Carta Capital).

De fato, a ideia de um mundo utópico, onde todos sejam tratados igualitariamente, onde não haja privilégios, onde a propriedade privada seja abolida e os bens, coletivizados, onde se exija de cada um segundo suas possibilidades e se dê aos demais segundo suas necessidades, é algo tão fantástico e mesmerizante que somente um coração empedernido não flertaria, ainda que por um átimo de segundo, com tal ideologia – “o novo mundo possível”, tão ruminado por socialistas de cátedra quanto pelos de araque.

Parafraseando Caetano Veloso, o tiranete Hugo Chávez, morto a semana passada vítima de câncer, era a mais completa tradução dessa espécie de socialistas sem intelecto a que se referia “Bob Fields” (apelido dado a Roberto Campos pelos seus adversários da esquerda). O ex-presidente da Venezuela, no afã de cumprir sua agenda missionária, subjulgou os Poderes Legislativo e Judiciário, amordaçou a imprensa, prendeu adversários, aliou-se a uma corja internacional de assassinos, como os comandantes das FARCs, o ditador iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o psicopata sírio Bashar Al-Assad, o tirano líbio Muammar Gaddafi e qualquer outro maluco que, como ele, enxergasse nos Estados Unidos o Grande Satã.

Chávez queimou boa parte das reservas de petróleo da Venezuela para promover uma política assistencialista e populista que lhe servia de esteio. Houve diminuição da pobreza? Sim, mas de uma forma artificial e sem garantia de continuidade, já que a economia do país, vale dizer, a indústria, a agricultura, os serviços, o turismo, dentre outros, sofreram uma reversão. Para completar, os índices de criminalidade chegaram a um ponto alarmante. Mata-se mais na Venezuela chavista do que em qualquer outro lugar da América Latina.

O vice-presidente, Nicolás Maduro, que deverá enfrentar Henrique Capriles, o candidato da oposição, nas eleições marcadas para 14 de abril, teve uma ideia genial para homenagear o homem que o promoveu de motorista de ônibus a ministro das Relações Exteriores. Mandará embalsamar Hugo Chávez e colocará a múmia em um local para visitação pública. Ademais, garante o bigodudo, provará que os norte-americanos de alguma maneira injetaram no corpo do caudilho células cancerígenas. Santo Deus! Há maior prova de falta de intelecto do que essa?

É patético, mas não deixa de ser simbólico. Assim como na ex-União Soviética (Lênin e Stálin) e na China (Mao Tsé), as múmias serão a prova “morta” de uma ideologia que jamais deveria ter saltado das páginas de Karl Marx, “O Furunculoso”, para assombrar o mundo e produzir milhões de cadáveres e outros milhões de subintelectuais.

De minha parte, espero que nosso ex-presidente se conforme com a hagiografia “Lula, o filho do Brasil”. Do contrário, dada a sua megalomania, mandará reproduzir em Garanhuns ou em São Bernardo do Campo pirâmides como as de Gizé, custeadas, obviamente, com verbas do BNDES e projeto e execução da Construtora Delta. Assim, a posteridade tomará ciência de que o nosso modelo de socialismo é tão equivocado, obsoleto e corrupto quanto os demais, mas pelo menos tivemos a honra de ter um Akhenaton nos governando no limiar do século XXI.  

PAULO MÁRCIO é Delegado de Polícia Civil desde 2001. Especialista em Gestão Estratégica em Segurança Pública (UFS) e em Direito Penal e Direito Processual Penal (Fase).  Foi Presidente do Sindepol-SE, Superintendente de Polícia Civil de Sergipe, Corregedor Geral de Polícia Civil. Atualmente é titular da 10ª Delegacia Metropolitana. É colunista do portal Universo Político.com E-mail paulomarcioramos@oi.com.br  paulomarcioramos.blogspot.com.br