Na Política

Biblia Online

04/03/13 | 23:18h (BSB)

Servindo a Deus e a Mamon

 

 

A demagogia nos ambientes religiosos não constitui novidade alguma. Há dois mil anos, Jesus Cristo, dedo em riste, acossava fariseus e saduceus, chamando-os de hipócritas, sepulcros caiados – brancos por fora e cheios de podridão por dentro. Com perdão do trocadilho, o embate do Mestre com os doutores da lei era um verdadeiro deus nos acuda. E Ele estava tão certo em seu juízo que aqueles mesmos homens a quem desafiou O colocaram, com a cumplicidade de Roma, em um madeiro entre dois ladrões.

 

De lá para cá muita coisa mudou. O mundo, de fato, é outro. Não se pode negar que, a par do advento da ciência, do surgimento de novas tecnologias, da melhoria das condições de vida dos povos, houve um substancial avanço no campo moral. Nada obstante, os meios religiosos continuam tão ou mais infestados de santarrões e abutres do que nos tempos do Cristo.

 

Bento XVI, o último ocupante do Trono de Pedro, embora teólogo, sempre foi mais preocupado com política do que com questões espirituais. Em sua agenda de Papa, temas como direito dos homossexuais, uso de preservativos para evitar a contaminação por Aids e DSTs, combate à pedofilia no âmbito da Igreja, dentre outros, foram tratados de forma conservadora quanto superficial. Há poucos dias, o líder espiritual de bilhões de pessoas deixou o trono para continuar fazendo o que sempre fez: política. Sua meta, agora, é convencer os cardeais sob seu comando a elegerem seu candidato “in pectore”. Tudo leva a crer que o novo papa vai ser uma espécie de Dilma Rousseff de Joseph Ratzinger.

 

Aqui no Brasil, dois fatos envolvendo religiosos também chamaram a atenção nos últimos dias. O autointitulado bispo Edir Macedo, criador da transnacional Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), apareceu pela primeira vez na lista de bilionários da famosa revista norte-americana Forbes. Sua fortuna é estimada em 1,1 bilhão de dólares (2,2 bilhões de reais). Esse exorcista de filme B, que também se diz teólogo e escritor, é useiro e vezeiro na arte de multiplicar dinheiro – seu milagre preferido. Mercador da fé, juntou uma bufunfa que mal caberia na Arca de Noé. Como religioso, o mais perto que chegou de Deus foi quando estreou seu jato Citation X, avaliado em mais de 20 milhões de dólares - apreendido o ano passado pela Receita Federal em um aeroporto do estado de São Paulo. Acusação: formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Pobre homem de Deus! Quanta injustiça!

 

Mas a grande revelação do ano em matéria de contradições é o papa-hóstia Gabriel Chalita. Esse prolífico escritor de bobagens olímpicas vendidas como artigo de primeira linha intelectual mostrou que por baixo daquela cara de coroinha bem-comportado escondia-se um diabinho doido por uns denários. Reportagem de Veja desta semana trouxe detalhes do rumoroso caso.

 

Segundo o semanário, em 2004, o ex-proprietário do sistema de ensino COC, Chaim Zaher, interessado em obter contratos com o governo do estado de São Paulo, infiltrou na Secretaria de Educação, então comanda por Gabriel Chalita, à época filiado ao PSDB, um tal Roberto Grobman, pagando-lhe um salário para que atuasse como lobista. Ocorre que Chalita – e Freud pode explicar melhor do que eu essas manifestações do id -  disse a Grobman que havia gostado dele, tornando-o desde então seu “acompanhante de viagens”, principalmente internacionais.

 

Tão íntimo de Chalita quanto Rose de Lula, o tal Grobman, que assessorou Chalita informalmente por dois anos e, durante esse período, frequentou seu apartamento no bairro de Higienópolis, resolveu dar com a língua nos dentes e relatou ao Ministério Público um esquema de propina chefiado pelo então secretário, que cobrava uma “taxa” de 25% sobre o valor dos contratos firmados com as empresas fornecedoras de produtos e serviços.

 

O deputado federal Gabriel Chalita (PMDB), que estava cotado para assumir o Ministério da Educação em troca do apoio dado a Fernando Haddad (PT) no segundo turno da eleição para a prefeitura de São Paulo, agora está cotado para assumir uma vaga na Penitenciária de Tremembé, junto com Dirceu, Genoíno e João Paulo Cunha. De sorte que a trinca petista já pode recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos, não pelo argumento da falta de duplo grau de jurisdição, pois isso é perda de tempo, mas pela possibilidade de serem submetidos, ainda que indiretamente, a penas cruéis, vedadas pelo art. 5º, inciso XLVII, “e”, da Constituição Federal de 1988. Ou alguém em seu perfeito juízo ignora que os sermões de Gabriel Chalita - aquele que serve a Deus e a Mamon -, equivalem a suplícios, açoites públicos, queimações e outras práticas típicas do Ancien Régime?

 

 

 

PAULO MÁRCIO é Delegado de Polícia Civil desde 2001. Especialista em Gestão Estratégica em Segurança Pública (UFS) e em Direito Penal e Direito Processual Penal (Fase).  Foi Presidente do Sindepol-SE, Superintendente de Polícia Civil de Sergipe, Corregedor Geral de Polícia Civil. Atualmente é titular da 10ª Delegacia Metropolitana. É colunista do portal Universo Político.com E-mail paulomarcioramos@oi.com.br  paulomarcioramos.blogspot.com.br 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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