Na Política

Biblia Online

27/01/13 | 12:48h (BSB)

Proinveste: governo e oposição maduros para o diálogo

A diplomacia é o instrumento por meio do qual muitas guerras são evitadas e outras, encerradas. Assim como na guerra, no jogo político um ato de diplomacia também pode, com precisão cirúrgica e sem produzir nenhum ruído, abrir portas que nem balas de canhão seriam capazes de arrebentar.

 

O governador Marcelo Déda (PT), com a experiência e a maturidade que doze anos consecutivos à frente dos mais importantes cargos do Executivo sergipano lhe proporcionaram, decidiu seguir à risca o conselho do popstar Amado Batista – que, lamentavelmente, hoje em dia só toca na rádio de Sukita –, e dá mostras de que, doravante, vai trocar a característica impulsividade pela máxima do poeta cult em sua utópica canção “Dinamite de Amor”, estrondoso sucesso dos anos 80, cujo refrão diz assim: “Quero plantar muitas flores pra fazer munições, e com botõezinhos de rosas carregar os canhões”. De sorte que, ao contrário da tal ponte onde o ex-prefeito Edvaldo Nogueira (PC do B) pôs uma placa de inauguração antes de concluir a obra (para desalento do combativo e loquaz ex-deputado federal João Fontes), está inaugurada a era “Dedinha paz e amor”.

 

O primeiro a receber os tiros, digo, os botõezinhos de rosas vermelhas disparados por Déda, foi ninguém menos que o senador Eduardo Amorim (PSC), que, de aliado e companheiro de chapa majoritária em 2010, foi transfundido pelos governistas em carcará sanguinolento, do tipo que pega, mata e come. O ato diplomático de Déda, que visa à abertura do diálogo entre governo e oposição para a discussão e posterior votação do Proinveste pela Assembleia Legislativa, deu-se no evento realizado no último dia 23, no Instituto Luciano Barreto Júnior (ILBJ), e foi presenciado por cerca de 2.500 pessoas, que aplaudiram calorosa e efusivamente o brilhante orador. Ponto para ele. Ponto para a civilidade. Ponto para a diplomacia e para os políticos sergipanos.

 

Em uma frase meio que poética, meio que filosófica, o deputado Gilmar Carvalho (PR) produziu a melhor definição do ato protagonizado por Marcelo Déda: “Felizmente, o governador, humildemente, pediu a audiência. Não se humilhou nem agrediu. Não foi menor nem maior. Foi grande!”, escreveu o Cancão. Não se pode asseverar que a opinião de Gilmar espelha o pensamento do grupo do qual faz parte. Mas é um sinal inequívoco de que o gesto de aproximação do governador visando à construção de uma agenda positiva para o estado foi bem acolhido entre os correligionários de Eduardo Amorim, sobretudo os deputados estaduais, sem cuja adesão o Proinveste se tornará algo tão factível e palpável quanto o pote de ouro guardado por um duende no final do arco-íris.

 

Brincadeiras à parte, e guardados os interesses de cada grupo, são atitudes como essa levada a efeito pelo governador Marcelo Déda no ILBJ que tornam o ambiente político respirável. Ademais, o gesto denota respeito pela oposição e acentua sua importância em um regime democrático, da mesma forma que reafirma a independência e a harmonia entre os Poderes, sem o quê não é possível estabelecer o exercício pleno da cidadania, na medida em que cada parlamentar atua como fiscal do Executivo por delegação do povo. Numa palavra, governo e oposição são as faces da democracia representativa, são os representantes do povo, e, por isso mesmo, devem corresponder aos anseios da coletividade, agindo de maneira civilizada e com espírito público, sob pena de perderem a legitimidade.

 

Como eu não acredito que Déda, ao pedir uma audiência com os líderes da oposição para discutir o Proinveste, nem Eduardo, ao cobrar do governador a construção do Hospital do Câncer, estão blefando ou jogando para a plateia – o que seria um desmesurado desrespeito ao povo sergipano -, é necessário que o diálogo avance e que os pontos controvertidos sejam postos à mesa e devidamente esclarecidos. Isso implica dizer que o governo tem a obrigação de atender a algumas exigências da oposição e detalhar, um por um, os projetos onde serão investidos os recursos, bem como explicar quanto custará cada obra, qual a data de início e conclusão de cada projeto, quais setores serão priorizados e por que (saúde, transporte, segurança, turismo, dentre outros), quais os estudos que avaliam os reflexos socioeconômicos do conjunto de medidas a serem adotadas, qual a contrapartida do estado, qual o impacto nas finanças do estado e os possíveis riscos para os servidores e futuras administrações – se é que eles existam -, quais as medidas a serem adotadas para evitar-se o uso eleitoreiro dos recursos tendo em vista o processo sucessório que se avizinha. E, obviamente, a pergunta que não quer calar: o Hospital do Câncer, uma das causas abraçadas pelo senador Eduardo Amorim, será real e integralmente contemplado pelo Proinveste? Esse ponto, creio eu, é vital para qualquer avanço nas negociações.

 

Dito isso, peço vênia à Sua Excelência, o governador Marcelo Déda, bem como aos prezados leitores, para adentrar num tema delicado, não obstante necessário para unir as pontas dessa despretensiosa análise.

 

É de conhecimento público que Marcelo Déda vem enfrentando, brava e estoicamente, um grave problema de saúde. Como todos que enfrentam esse tipo de enfermidade, ele sabe que, por mais avançada que seja a medicina, notadamente a área de oncologia, e por inquebrantável que seja o seu espírito, há sempre os riscos inerentes à própria patologia. Daí, mais do que nunca, a necessidade de reforçar a fé em Deus, de buscar o aconchego e o apoio da família e dos amigos mais íntimos, e de não se entregar jamais à depressão e ao desânimo. Feito isso, as chances de cura aumentam exponencialmente. E quem de nós não conhece ao menos um caso que venha a confirmar tal assertiva?

 

Paradoxalmente, enquanto seu corpo sofre os efeitos do tratamento quimioterápico tanto quanto da própria enfermidade, Déda parece ter aberto as comportas de sua mente e de seu coração – de seu espírito, em última analise -, e isso pode ser lido em cada gesto, em cada palavra, em cada manifestação sua de alguns meses a esta parte. Esse novo estado de espírito, por assim dizer, é fruto de longas horas de reflexão e de um novo olhar para dentro de si, para seu mundo interior – esse universo tão rico e tão pouco explorado pela maioria esmagadora da população, independente das condições de saúde de cada um de nós.

 

O político de cinquenta e dois anos de idade, de carreira meteórica, dono de uma eloquência quase inexcedível, de destaque nacional desde que fora líder da oposição na Câmara Federal, que destronou as “velhas oligarquias” sergipanas, segundo o jargão utilizado pela esquerda (da qual fiz parte em um passado recente, embora de modo mais contido e sem qualquer tipo de militância mais ostensiva, mas com a qual rompi e com quem não tenho pretensões de me reconciliar – refiro-me à ideologia e não às pessoas, por óbvio, em relação às quais nutro o mesmo respeito, carinho e amizade de sempre -, não por questões pessoais, mas por incompatibilidade político-filosófica), enfim, esse prodígio da política nacional, reconhecido por homens da estirpe do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, parece ter encontrado a bússola que todos guardamos no imo do ser.

 

Se necessitamos de uma explicação para as desventuras que a vida por vezes nos apresenta (uma sábia grega disse certa feita que “uma desgraça é uma graça disfarçada”), uma das prováveis respostas é esta: estabelecer o contato com a nossa verdadeira essência, com o nosso Self, com nosso Eu Superior - sem máscara, sem verniz, sem armaduras nem fantasias criadas pelo ego. De maneira que não tenho motivo para desacreditar que o gesto de Marcelo Déda tem o selo da autenticidade, que ele está realmente colocando o interesse público acima das paixões e interesses pessoais. O senador Eduardo Amorim, homem extremamente inteligente e intuitivo, também o percebeu. Assim, pouco a pouco o Proinveste deixa de ser uma quimera para se constituir em uma possibilidade.

 

 

 

PAULO MÁRCIO é Delegado de Polícia Civil desde 2001. Especialista em Gestão Estratégica em Segurança Pública (UFS) e em Direito Penal e Direito Processual Penal (Fase).  Foi Presidente do Sindepol-SE, Superintendente de Polícia Civil de Sergipe, Corregedor Geral de Polícia Civil. Atualmente é titular da 10ª Delegacia Metropolitana. É colunista do portal Universo Político.com E-mail paulomarcioramos@oi.com.br  paulomarcioramos.blogspot.com.br 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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