A princípio do ano 2000, depois dos primeiros triunfos da esquerda na América latina, era evidente que algo novo estava por ocorrer, pela primeira vez na história da região se via um claro distanciamento dos Estados Unidos, havia muita expectativa nos resultados eleitorais de cada um dos países, cada vez que ganhava um novo governo de esquerda o mapa político se reconfigurava, era a primeira vez que se via a oportunidade de uma integração política, a conformação de um bloco - a utopia.
Necessitamos pouco tempo para que nos déssemos conta que para pensar e trabalhar como um só bloco é preciso dar um giro em nossa forma de perceber a política. Mesmo que a maioria dos novos governos usem a bandeira da esquerda, há grandes diferenças entre eles e, além disso, alguns desses líderes têm muito pouco interesse em conformar um só bloco político e econômico que tenha presença em nível internacional, porque prevalecem seus interesses pessoais acima de tudo.
No entanto, alguns acadêmicos especialmente europeus seguem vendo desde fora à América latina como o laboratório para experimentar e predicar que a solução às grandes desigualdades de nossos países é a atual esquerda. Outros mais realistas, ao pouco tempo de analisar as políticas destes regimes, começaram a destacar as diferenças entre eles.
Para diferenciar "às esquerdas" alguns começaram a nomeá-las e realizar diferentes caracterizações que iam desde os modelos de renovação, inovação, e revolução, até aos nomeados como esquerda light e esquerda radical, esquerda carnívora e esquerda vegetariana.
Desta maneira, ficava cada um de seus líderes nas diferentes esquerdas. De acordo, com a visão política, por exemplo, Lula e Michelle Bachelet (ex-presidente do Chile e membro do partido socialista) sempre se relacionaram com a esquerda renovadora, a light ou a vegetariana. Por outro lado, a Chávez e Ortega, se lhes encerrou dentro da revolucionária, radical ou carnívora, pelo autoritarismo, o populismo e as violações aos direitos humanos que sofrem aqueles que pensam diferente a eles.
O atual palco eleitoral brasileiro, demonstra que a candidata do PT, Dilma Rousseff, é uma das favoritas para ganhar as eleições de 3 de outubro. Pelo seu histórico como revolucionária e no hipotético caso que ela resultasse ganhadora, deveríamos esperar que ela se alinhasse com a esquerda radical latino-americana? E sendo assim, qual preço pagaria o Brasil?
O Brasil ganhou seu lugar no atual palco internacional e, portanto, cada vez terá mais influência, mas não necessita se alinhar à proposta da "esquerda revolucionária". Pelo contrário. O país deve ampliar sua influência de acordo com seus valores de paz e democracia, porque estes são os valores que lhe garantirão um lugar importante no mundo. O próximo presidente do Brasil deve ser um bom gerente e com grande vocação de serviço público. Além disso, também precisa ser um grande latino americanista.
Fran Espinoza é Politologo, graduado na Universidade Rafael Landivar (Guatemala), Mestrado em Estudos Internacionais de Paz, Conflito e Desenvolvimento, Universidade Jaume I, Castellón (Espanya), doutorando em Estudos Internacionais e Interculturais, Universidade de Deusto, Vizcaya, Espanha. Contatos: espinoza.fran@gmail.com
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