Na Política

Biblia Online

05/01/10 | 18:30h (BSB)

Terra de caudilhos anacrônicos

Entende-se como caudilho uma pessoa que exerce a liderança nos terrenos político e militar, alguém que está à frente de um regime de poder concentrado, que se associa com idéias negativas, de autoritarismo e de falta de liberdade. O caudilhismo, portanto, seria um sistema de comando autoritário, onde o caudilho acumula uma quantidade de populismo, culto à personalidade e demagogia. Ultimamente, ainda se pode observar que existe uma estreita relação entre o caudilho e o anacronismo.

 

Entendendo o anacronismo como a falta de adequação que resulta de apresentar algo como próprio de uma época à qual não corresponde. Tanto a academia como a política nos ensinam que existe um duplo exercício, que supõe desaprender e reaprender, o qual nos faz capazes de conectar as idéias com as realidades. E quem não supera o anacronismo, termina convertendo-se em um excelente anacrônico.

 

Para os que vêm seguindo a involução na política latino-americana fica fácil apresentar-lhes aos melhores representantes deste termo, simplesmente porque escutamos que seus clássicos discursos revolucionários ficaram apanhados no tempo. À simples vista isso não supõe nenhum perigo para os países latino-americanos, mas na verdade costuma ser uma das ferramentas mais efetivas que são utilizadas para perpetuar-se no poder e eliminar qualquer tentativa democrática que possa colocar em perigo sua permanência no poder.

 

Seus discursos anacrônicos costumam ir acompanhado de constante provocação, costumam sentir-se representante dos pobres, e todo aquele que não pensa como ele se lhe selará de imperialista e automaticamente passará a fazer parte de seus inimigos ao que haverá que se eliminar imediatamente. Suas estratégias poderiam dividir-se em três: primeiro, fazem uso de vocábulos que são desconhecidos para a maioria da população; em segundo, privam de todo tipo de liberdades à sociedade; e em terceiro, ameaçam "tomar as armas" em nome da paz.

 

Um desses caudilhos que não alcançaram superar o duplo exercício de desaprender e reaprender começou a tachar, no ano 2008, de "godarria" a todo aquele que não estava de acordo com sua proposta "integracionista". Talvez não fosse anacronismo usar a palavra godarria, que se utilizava nos séculos XVII e XIX na Venezuela para desqualificar aos setores mais ricos que pertenciam às velhas oligarquias? Certamente o é, porque no século XIX não havia empresários, o que existia era a aristocracia agrícola, possuidores de fazendas e roupas de uso diário.

 

Outros caudilhos anacrônicos aprenderam tanto em nível teórico como prático as diferentes táticas guerrilheiras para desqualificar e ameaçar fazendo uso do vandalismo organizado para semear o terror em todo um país. Privando-lhes desta maneira de qualquer tipo de expressão que possa danar a imagem do messiânico, o que no final termina convertendo-se em uma ditadura familiar abundante nesta terra, onde a história se repetirá mais uma vez e deixará como resultado as piores violações dos direitos humanos.

 

A maior ironia dos caudilhos é avaliar a Mãe Teresa e o Che Guevara na mesma pessoa. Geralmente, usam a pobreza como sua maior bandeira. Ao invés de iniciar um programa de desenvolvimento sustentável e implementar políticas de inclusão social se limitam a amenizar a fome e a miséria com pratos de comidas, gerando, assim, uma interminável espiral de dependência e miséria humana - ao mesmo tempo que repetem o incansável discurso revolucionário.

 

Como escreveu Ismael Serrano em "Somos", há quem nos dizem que não é tempo para falar da utopia, nem de revoluções, que é um anacronismo cantar-lhe trova, nomear a Guevara. E enquanto, batem sua fé e teu futuro na sua frágua, o caudilhismo é um mal que não tem cura. Por isso, é necessário eliminá-lo com a democracia.

 

Fran Espinoza é Politologo, graduado na Universidade Rafael Landivar (Guatemala), Mestrado em Estudos Internacionais de Paz, Conflito e Desenvolvimento, Universidade Jaume I, Castellón (Espanya), doutorando em Estudos Internacionais e Interculturais, Universidade de Deusto, Vizcaya, Espanha. Contatos: espinoza.fran@gmail.com

*Os textos publicados neste espaço são de responsabilidade única de seus autores.

Comentário

06/01/10 - vcj

Caro Fran. Meu pai me reencaminhou o seu artigo de opinião sobre caudilhismo, que é relevante também em Portugal (numa variante a que se tem designado como caciquismo). Com os meus melhores cumprimentos,

vcj

Professor da Universidade de Aveiro em Portugal



10-11-2024
 

 

 

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