Na Política

Biblia Online

18/07/11 | 00:42h (BSB)

Pensando em Cleomar

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Cleo recebe o carinho de Déda

Por Joedson Telles

 


- E aí negão, as novidades da política?

 

Com esta frase a espelhar um 3x4 do seu jeito humilde de tocar a vida, o amigo Cleomar me recepcionava na redação do JC todas as manhãs.

 

- Quem sou eu para lhe trazer novidades? Eu é que quero a boa do dia - respondia com ar de eterno aprendiz, na certeza de que todas as pautas que seriam transformadas em matérias naquele dia estavam também a povoar a mente de Cleo - o professor mais voluntário que a vida me atirou no caminho.

 

Quando esta rotina era quebrada, lembro que costumava flagrar Cleomar num pequeno corredor que permite acesso à redação do JC fumando um "bom" cigarro.

 

- Cleo deixe este cigarro, velho - sugeri certa vez.

 

Como quem responde, na classe, que tem conhecimento pleno do que está a fazer e idade suficiente para decidir os riscos que quer correr, Cleo sequer respondeu. Optou por caprichar no trago seguinte.

 

- Diga aí, negão. Estou aqui pensando numa pauta interessante. Tem uma matéria de política na Tarde de hoje. Vou deixar com você. Dá para puxar para cá.

 

Cleo não tinha obrigação de pautar a editoria de política. Não ganhava para isso. Mas não tinha jeito: nasceu para pautar. E pautava com prazer. Maestria. Cigarro, conhaque, mulher, amigos, bares... tudo isso lembra Cleomar, é óbvio. Fazia parte do seu mundo. Entretanto, nada como uma pauta "interessante".

 

Um dia permitir-me indagar Cleomar sobre este seu amor platônico pelas pautas. Surpreendeu-me a forma como ele respondeu em tom melancólico.

 

- Eu fico preocupado, negão. Os jornalistas de hoje não querem mais saber de ser pauteiros. E o mercado está carente - lamentou.

 

Isso deixava Cleomar intrigado. Algo tão importante na sua vida (sua própria vida?) não despertava interesse nos jovens jornalistas - afoitos a aparecer na TV ou assinar nas páginas de cultura. Cleomar sabia como ninguém que sem uma pauta bem feita - "interessante" - o bom jornalismo passa distante. Ainda que se tenha os demais ingredientes da receita...

 

... O Cleomar de hoje, infelizmente, está a espelhar a mais cruel das rupturas. Já não pauta. A matéria que domina as principais páginas da web sergipana neste momento - e, por certo, fará o mesmo com os demais veículos amanhã - não foi pautada por Cleomar, mas pelo seu destino: a sua morte.

 

Cleo, cujo corpo repousa como uma pauta a esperar o repórter que não vem, deixa-nos, todavia, uma preciosa pauta a ser transformada numa matéria a ser lida e relida até a memorização imprescindível: amemos fazer o que fazemos melhor. Amemos a família, os amigos, o lazer, o respeito às pessoas. Aproveitemos a vida ao nosso gosto sem fazer mal a ninguém. E, sobretudo, nunca se curve aos estorvos da vida.

 

"Nunca, negão", diria Cleo.



02-05-2024
 

 

 

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