O surgimento dos aglomerados habitacionais contribuiu para um crescimento econômico e social. As cidades entre os anos de 1800 e 1850 iniciam um processo de urbanização e se alavanca exponencialmente no mundo. Atualmente, mais da metade da população mundial está nas cidades e os impactos desse significativo percentual tem contribuído para grandes desafios socioambientais, tecnológicos e de inteligência sobre como devemos viver e (com)viver e o quanto dependemos do meio rural para que essa máquina urbana possa funcionar.
Mesmo com a diversidade dos problemas que qualquer morador da cidade enfrenta todos os dias é escasso o número de pessoas que buscam ou demonstram interesse para entender ou compreender o por que não conseguimos avanços significativos na forma de se relacionar com a cidade e como podemos contribuir para melhoria de temas coletivos como segurança pública, mobilidade, moradia, especulação imobiliária e tantos outros.
O acesso a livros, documentários, histórias ou qualquer outro tipo de produção se restringe aos profissionais de algumas áreas ou ao ambiente acadêmico que tem a cidade como sua área de atuação. Essa falta de interesse de outros cidadãos e a discussão somente em pequenos grupos ou em representações setorizadas repercute na formação de um discurso conhecido como o “de mim, para mim mesmo”. São inúmeros os momentos em que encontramos as mesmas pessoas e as mesmas falas em locais confinados no qual saímos com o nosso ego inflado e tendo a certeza que estamos evoluindo.
Esse viver dentro de um grupo para o próprio grupo deixa a técnica apurada, a tecnologia aceita, mas as soluções nem sempre resolutivas. A cidade é um mar de contradições, a sua uniformização com o uso da técnica e por meio da tecnologia não consegue alcançar a integralidade da parte mais viva da cidade, às pessoas. Somos movidos a emoções, a ideologias, a sentimentos, a cultura e isso faz com que continuamente possamos mudar de opinião, construir e descontruir ideias e fazer a cidade crescer de forma mais justa ou não.
Como forma de tornar a discussão mais democrática, o acesso a informações sobre a natureza das questões urbanas, do seu surgimento, as suas causas, os desafios e suas infinitas possibilidades acabam se tornando superficiais e corriqueiras. O resultado disso é a disseminação do famoso jargão “o problema das cidades é a falta de planejamento”. Este é apenas um dos problemas, e esse discurso é apresentado diariamente nos telejornais, nas rádios matinais e nas falas dos políticos. Esquecemos que o maior dos problemas somos nós, cidadãos.
Para apresentar resultados rápidos a esse desafio, os gestores públicos buscam a tecnologia e a inteligência dos sistemas de organização populacional e de tráfego para respaldar as suas falas esperançosas e cheias de eufemismo e empolgação. Mas na prática a adoção exclusiva da tecnologia e da inteligência destes sistemas ocasiona na representação de um cidadão visto como números, estatísticas, mortes e vidas, saídas e chegadas. Ele deixa de ser encarado com um ser social, com necessidades e obrigações.
Os sistemas inteligentes e a tecnologia pode ser usada como um instrumento dentre vários outros para a resolução dos problemas urbanos. Se não inserirmos os critérios sociais, ambientais, culturais, econômicos e a suas constantes transformações, teremos uma série de repetições de ideias inovadoras com prazo de validade máximo de 4 ou 8 anos. A inteligência e a tecnologia inovadora, passa a ser burrice e perpetuação dos problemas urbanos cada vez mais evidente.
O cidadão deve encarar o desafio e ir além dos discursos e do senso comum exaustivo dos meios de comunicação, ele deve buscar entender de forma ampla e democrática a raiz dos seus problemas e participar ativamente da vida da cidade, deixando de ser apenas um transeunte e virando um cidadão pleno.
Acredito que esse seja um bom caminho para não se deixar tutelar e se infantilizar tão facilmente por políticos profissionais e técnicos a serviço do aparelho do Estado. Sei que não é fácil e simples, mas se assim fosse, não estaria escrevendo esse texto. E aí? Vamos lançar juntas as nossas mãos, mentes, técnicas e inteligência nas ruas??
*José Waldson Costa de Andrade, geógrafo e Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Associado da ONG Ciclo Urbano e Diretor de Meio Ambiente da Sociedade Semear. E escreve sobre a vida urbana para o portal Na Política.
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