Universo Político.com

ESPINOZA

-

Reflexão para a Universidade

Em países com um alto grau de racismo costuma dar-se uma situação bastante peculiar, porque as povoações excluídas costumam ser usadas como caras no exterior pelos institutos de turismo e as agências de viagens. Dois exemplos representativos são: A Guatemala e o Brasil, no primeiro o "indígena" vende-se por ser o tradicional e o colorido - o étnico -, no segundo vende-se "o preto", pela história, a música, a dança e a sensualidade, não se necessita ser um esperto no tema para dar-se conta que nessas povoações é onde se concentram os mais altos níveis de pobreza e exclusão.

 

Tanto a pobreza como a exclusão são dois elementos bastante estudados, analisados e refletido na Universidade, geralmente esta questiona o papel que historicamente teve o Estado com os excluídos e como este fenômeno se veio reproduzindo em diferentes períodos. Mas, poucas vezes se questiona o papel da Universidade à qual pertence uma pequena elite e que no final se transforma em uma espécie de clube ao que poucos poderão ingressar.

 

Se bem é certo, há algum tempo se vem falando sobre as quotas para afro-descendentes nas universidades brasileiras (ação afirmativa, como alguns de seus defensores a chamam). O tema avança bastante lento nas universidades onde se o colocaram, enquanto em outros países nem sequer é um tema de discussão. Durante minha estadia em Sergipe um professor da Universidade Federal de Sergipe, me dizia que ele estava trabalhando para que este projeto avance:

 

- Amigo, sabe por que estou fazendo isto, porque se não é assim os pretos seguirão excluídos. A classe média brasileira, à qual pertencem muitos professores universitários, quer manter a situação como até hoje, não lhes interessa que as coisas mudem porque não querem ter concorrência e pior concorrência preta - disse ele.

 

É necessário perguntar, se está se jogando com o duplo discurso? Que os pretos estudem, mas não se há muito para que isso avance. Para refletir sobre este tema é necessário levar em conta alguns dados: de acordo à revista Carta Capital, no ano 2000, dos 50 aspirantes a Direito na Universidade Federal de Sergipe, havia quatro pretos, dos quais somente dois se receberam. Segundo essa revista, um professor dessa casa de estudo, fez um comentário interessante: "A discriminação no Brasil quase nunca é explícita. Somos adestrados culturalmente para evitar conflitos". Como interpretamos esse comentário?

 

Bonaventura de Souza comentava em uma conferência realizada em Santa Cruz de La Sierra, a Bolívia, que no Brasil 184 anos depois da independência, por alguma razão, 95% dos pretos são pobres, enquanto na população branca só há 40%. A marginação social das povoações afro-descendentes era considerada um problema de classe, não tinha especificidade. Agora se reconhece que além de um problema de classe é também um problema racial. Falamos muito do Estado monocultural, mas as universidades latino-americanas são totalmente monoculturais. Talvez mais monoculturais que o Estado, porque pelo menos o Estado é forçado a cada dia a ver os problemas. A Universidade olha seu umbigo, se fecha e segue pensando como no século XIX. Por isso é preciso inventar outra universidade.

 

Da mesma forma que algumas instituições tradicionais com poder e capacidade de incidência se lhes questiona seu papel e tiveram que começar a plantear seu novo papel social e político, a igreja, por exemplo, a Universidade na América latina terá que começar a adequar-se aos tempos tantos nas suas análises, contribuição e a novas teorias que se adaptem aos tempos, assim como em algumas de suas missões - trabalhar de mais uma maneira prática para alcançar maior justiça social.

 

Fran Espinoza é Politologo, graduado na Universidade Rafael Landivar (Guatemala), Mestrado em Estudos Internacionais de Paz, Conflito e Desenvolvimento, Universidade Jaume I, Castellón (Espanya), doutorando em Estudos Internacionais e Interculturais, Universidade de Deusto, Vizcaya, Espanha. Contatos: espinoza.fran@gmail.com

*Os textos publicados neste espaço são de responsabilidade única de seus autores.

 

Comentários

13/04/10 - Rosangela

Parabéns ao Professor Fran pela lucidez do seu artigo sobre o papel da universidade brasileira.Este modelo de instituição está deveras ultrapassado pelo ação hitórica de exclusão social promovida sob a tutela de um estado que neste século deseja promover justiça social.
COTAS RACIAIS JÁ. Saudações ao amigo Fran.