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Vera Lúcia: “O governo e o Congresso Nacional não governam para a maioria do povo”
Candidata à presidência falou sobre suas propostas
Vera Lúcia: “O governo e o Congresso Nacional não governam para a maioria do povo”

Do Portal NaPolítica

A candidata à presidência pelo PSTU, Vera lúcia, conversou com o Portal NaPolítica sobre suas propostas para o Brasil. Disputando a presidência pela primeira vez, Vera fez questão de ressaltar que sua campanha está sendo financiada pelo trabalho militante de nossos apoiadores. Confira a entrevista na íntegra:

Portal NaPolítica: Qual o sentimento em disputar a Presidência da República?
Vera Lúcia: O sentido é de felicidade e também de muita responsabilidade em apresentar para a classe trabalhadora e o povo pobre do nosso país um programa que responda as nossas necessidades mais sentidas. Bem como, incentivar a que se organizem e atuem de forma direta, pois não devemos depositar nenhuma ilusão nas eleições, as mudanças não viram das urnas, mas das lutas. Estou me sentindo segura também neste desafio porque nossa candidatura é construída de forma coletiva por mulheres e homens, negras e negros, LGBTs, camponeses, indígenas, que acreditam na construção de uma sociedade justa e igualitária, uma sociedade socialista.

Portal NaPolítica: Qual linha você pretende trabalhar a sua campanha para se diferenciar dos demais candidatos?
Vera Lúcia: Nossa candidatura é a única que expressa uma alternativa socialista para esse país. As demais, do PT a Alckmin, propõem a continuidade da mesma política econômica levada a cabo pelos governos Dilma e Temer, que na prática significa mais reformas e ataques aos nossos direitos e empregos, em prol dos lucros dos grandes banqueiros e empresários. Outros propõem algumas reformas dentro desse mesmo sistema capitalista. Nossa candidatura, ao contrário, diz aos trabalhadores e ao povo pobre que nos marcos do capitalismo não tem nenhuma possibilidade que a nossa vida melhore. Dentro disso, as eleições são um jogo de cartas marcadas dominado pelos poderosos para que nada de fato mude. Por isso, propomos uma rebelião, em que a classe trabalhadora organizada, junto ao povo pobre desse país, derrube o governo e esse sistema, e construa um governo seu, socialista, através de conselhos populares. São os trabalhadores e a população, que geram toda a riqueza desse país, quem deve governar.

Portal NaPolítica: Quais as propostas para educação, saúde, segurança pública e previdência?
Vera Lúcia: Defendemos educação e saúde pública de qualidade e pública para todos. Isso passa por um choque de investimento nesses setores, revertendo o quadro de precarização e caos que existe hoje. Passa também por reverter o processo de terceirização e privatização que se alastra cada vez mais pelos serviços públicos. E, mais que isso, estatização sem indenização da educação e saúde privada. Saúde e educação não são mercadorias para o lucro de poucos, mas direitos sociais que devem ser garantidos pelo Estado. Os recursos para isso viriam do que hoje vai para o pagamento dos juros da dívida pública, que consome quase metade do Orçamento Federal. Isso, da mesma forma, garantiria o pagamento e valorização das aposentadorias, o contrário do que as outras candidaturas querem fazer: atacar as aposentadorias para garantir os lucros dos banqueiros.


Portal NaPolítica: Quais ações seria, direcionadas para a Segurança Pública já que enfrentamos sérios problemas no Brasil?
Vera Lúcia: A segurança pública é um dos problemas mais sentidos da classe trabalhadora. O que prima hoje é um quadro de completa insegurança, principalmente ao trabalhador que sai cedo para o serviço e volta tarde. E, principalmente ainda, a mulher trabalhadora. A solução, no entanto, não é mais polícia e mais cadeia como defendem de forma demagógica alguns candidatos que não sentem na pele os efeitos da violência urbana. Eles andam de carro blindado e tem dinheiro para pagar segurança. A polícia brasileira é a que mais mata, e mais morre, no mundo. A população carcerária, em sua grande maioria de pretos e pobres, só cresce. E a violência não diminui, pelo contrário. Não vamos acabar com a violência que sofremos no dia-a-dia se não terminarmos com essa desigualdade brutal em que vivemos. Mas para além disso é preciso algumas medidas específicas. Uma delas é a desmilitarização da Polícia Militar, e uma conformação de uma polícia única, civil, controlada pela população e os trabalhadores, com amplos direitos como o de greve e sindicalização. Outra é a descriminalização das drogas. Hoje, o fato de as drogas serem ilegais torna esse mercado altamente lucrativo, possibilitando o surgimento e alastramento do crime organizado e sua capilarização por todo o estado, inclusive na polícia. E além disso se torna justificativa para o genocídio e encarceramento em massa da juventude negra. Porque quem é preso ou morto não são os ricos que lucram de verdade com as drogas. Não são os donos de helicópteros apreendidos com toneladas de pasta de cocaína. Mas o aviãozinho das favelas, os jovens marginalizados que são excluídos do mercado de trabalho e do acesso aos serviços públicos.

Portal NaPolítica: Como tirar o Brasil da crise?
Vera Lúcia: Não dá para resolver nenhuma dessas áreas sem encarar um fato: o Brasil é um país dominado pelas grandes potências capitalistas, cuja riqueza é canalizada para algumas poucas multinacionais e meia dúzia de banqueiros internacionais. Nesse quadro, o papel destinado ao Brasil é o de fornecer matéria-prima barata ao mercado internacional. Produzimos carne, soja e outras commodities para exportação e, aqui dentro, milhões passam fome. Exportamos petróleo cru para importar combustível, mais caro. As multinacionais exploram nossa mão-de-obra barata que reverter os lucros às suas matrizes. Quase metade do orçamento federal é destinado para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública, que vai essencialmente para poucos agiotas internacionais. Isso é o que provoca esse quadro de caos e miséria em que estamos. O governo e o Congresso Nacional não governam para a maioria do povo, mas para os banqueiros e as grandes empresas. Já a nossa burguesia é sócia-menor das potências capitalistas, contentando-se com as migalhas que caem das mesas de seus senhores. Por isso somos um país tão desigual e o povo é tão pobre, apesar de sermos uma das maiores economias do mundo.

 

Portal NaPolítica: Então, qual seria a alternativa?
Vera Lúcia: Então, uma condição fundamental para mudar a vida do povo, é romper com os banqueiros e multinacionais, parar de pagar essa dívida, que já foi paga muitas vezes a juros de agiota, para que se possa investir em saúde e educação. Fazer parar as remessas de lucros das multinacionais para fora, para que esses recursos sejam investidos aqui no país, gerando empregos e melhorando as condições de vida dos trabalhadores. E estatizar as 100 maiores empresas, incluindo as multinacionais, que dominam grande parte da nossa economia, fazendo com que funcionem segundo os interesses e necessidades da maioria da população.

Portal NaPolítica: Quem está financiando a campanha de Vera Lúcia, e com quais objetivos, considerando que, em geral, empresas não fazem ‘doações’ e sim investimentos?
Vera Lúcia: Com certeza que quem doa para uma campanha o faz segundo seus interesses. Não tem banqueiro ou empresário filantropo. Eles investem numa campanha, milhões até, esperando receber o retorno depois das eleições. Nossa campanha é modesta porque nos recusamos a receber dinheiro de empresários, empreiteiros ou banqueiros. Por outro lado, essa mudança das regras eleitorais que aprovaram recentemente aprofundaram o caráter antidemocrático das eleições. Criaram um fundo bilionário que vai para os mesmos grandes partidos corruptos. PT e MDB, para se ter uma ideia, vão levar mais de 200 milhões cada um. Cortaram da saúde e educação para criar esse fundo indecente que mantém as campanhas milionárias e mentirosas para enganar o povo. Nossa campanha é feita por trabalho militante de nossos apoiadores. Então, quando você recebe um panfleto nosso na rua, na porta da fábrica ou na periferia, tenha certeza que quem lhe entregou não recebeu um tostão para isso, mas está ali por um ideal.


Portal NaPolítica: Como você tem acompanhado os recorrentes escândalos nacionais de corrupção, e que papel seu partido tem no combate a esses crimes e aos políticos que os cometem?
Vera lúcia: Os escândalos nos mostram que a corrupção é inerente aos grandes partidos do Congresso Nacional. Somos governados por um bando de políticos corruptos. As grandes empreiteiras construíram suas fortunas com base em negociatas e maracutaias. Grandes bancos, empreiteiras, multinacionais: a corrupção em conluio com os governos e o Congresso Nacional é generalizada. O PSTU é um dos poucos partidos que não aparecem na lista da Odebrecht. Nós denunciamos os corruptos e defendemos a prisão de todos os políticos e empresários corruptos. Não pode prender só de determinado partido, e deixar outros de outro partido soltos e impunes. Tem que prender todos. E confiscar seus bens. As empresas envolvidas em corrupção deveriam ser expropriadas, estatizadas e colocadas sob controle dos trabalhadores.

Portal NaPolítica: Como pretende contribuir para superar os graves problemas da desigualdade social, da irresponsabilidade ambiental, das várias violências, dos preconceitos?
Vera Lúcia: Chamamos a classe trabalhadora a se organizar para que se rebele contra esse sistema, derrube o capitalismo e acabe de uma vez por todas com toda a desigualdade e, mais que isso, contra esse regime de exploração e opressão. Nossa tarefa não é pra depois das eleições, é pra agora e além. Chamamos a organização dos debaixo para que juntos, derrubemos os de cima.

Portal NaPolítica: Algum projeto em especial que será o diferencial durante a campanha?
Vera Lúcia: Várias medidas nos diferenciam das outras candidaturas. Uma é a revogação de todas as medidas e reformas contra a classe trabalhadora, do ataque de Dilma ao seguro-desemprego à reforma trabalhista de Temer. Segundo, o fim do pagamento da dívida pública aos banqueiros internacionais, e o investimento desses recursos em saúde, educação e na geração de empregos. Terceiro, a estatização das 100 maiores empresas, incluindo as multinacionais, que dominam quase metade da nossa economia, para que, controladas pelos trabalhadores, possam produzir e funcionar de acordo com os interesses da classe trabalhadora e da maioria da população.

Portal NaPolítica: Qual a maior dificuldade até agora em sua campanha presidencial?
Vera Lúcia: Maior dificuldade que temos é a nossa invisibilização por parte da regra eleitoral injusta e os grandes meios de comunicação. Por conta disso, a grande maioria da população sequer sabe de nossa existência. Nosso tempo de TV, por exemplo, é de só 5 segundos, enquanto Alckmin do PSDB tem mais de 5 minutos. Da mesma forma, somos vetados dos debates na televisão por parte das emissoras.

Portal NaPolítica: Já pensou nos nomes dos ministros, se ganhar a eleição?
Vera Lúcia: Se ganharmos as eleições vamos governar não com meia dúzia de supostos iluminados, mas com a classe trabalhadora mobilizada e organizada. Ao invés de ministérios, vamos organizar em conselhos os operários nas fábricas, os trabalhadores em seus locais de trabalho, os moradores da periferia, e juntos, vamos governar esse país.

 

Da redação