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ESPINOZA -
Brasil: Escravidão tarefa pendente
Brasil: Escravidão tarefa pendente

Na atual conjuntura a liderança do Brasil é um assunto que não se discute, bastam ver os indicadores macroeconômicos do país, alguns atribuem esse protagonismo a seu presidente "Lula", para outros, Lula somente está dando continuidade às políticas iniciadas por Fernando Henrique Cardoso, seja qual seja a explicação, se pode perceber que no país existe uma parte de brasileiros comprometidos para que o país seja a referência latino-americana e que em nível interno realize grandes transformações em matéria de políticas sociais, onde se persegue entre outros objetivos a distribuição da riqueza, e que se possa alcançar a instauração dos direitos humanos em toda a cidadania sem distinção de classes.

 

A maneira de referência histórica e para introduzir-nos no tema que a estas alturas deveria ser parte da história. Em 1479 se realiza o Tratado de Alcáçovas, com o qual a Espanha autoriza a venda de escravos, o centro de tráficos é Sevilha. Em 1494, o Tratado de Tordesilhas, que planta a divisa entre a Espanha e Portugal para as explorações de novas terras, põe limites que impedem durante os primeiros anos da colônia, o comércio diretor de escravos desde as costas africanas.

 

Mas em 1502, se introduzem os primeiros escravos nas ilhas do Caribe, primeiro se autorizou na Espanhola e posteriormente se institucionaliza no resto do Caribe. Assim, tiveram que passar vários anos para a abolição da escravidão, o último país em fazê-lo foi o Brasil no ano 1888, passou mais de um século, mas não há sido suficiente para que nesse país se elimine este tipo de exploração, a diferença é que na atualidade os escravos não são somente os pretos.

 

De acordo ao Ministério do Trabalho Brasileiro, o governo liberou a 2.216 escravos entre os meses de janeiro e setembro deste ano, o que daria uma média de nove trabalhadores resgatados diariamente no que vai de 2009, as cifras são bastante similares às de exercícios anteriores. A maioria dos escravos trabalha em plantações de cana-de-açúcar, soja e produção de carvão, também nas grandes fazendas como peões no gado, muitos deles são dos estados mais pobres do país, especialmente do nordeste. Se bem é certa esta prática é mais habitual nas áreas remotas onde a presença do Estado é mínima, mas não deixa de ser algo alheio em Estados como o Rio de Janeiro, onde este ano se hão "libertado" 361 escravos.

 

O Estado de São Paulo é outra boa referência do encruado que está este assunto, de acordo à Organização Mundial da Saúde, muitos bolivianos são vendidos e comprados como escravo a 300 dólares onde geralmente se lhes obriga a trabalhar nas fábricas de roupa. Todos os dias chegam à cidade de São Paulo aproximadamente entre oito e dez ônibus cada um com aproximadamente 45 passageiros bolivianos especialmente dos povos rurais de Santa Cruz de La Sierra. Tanto os trabalhadores brasileiros como os bolivianos são recrutados por intermediários conhecidos popularmente como "gatos", estes os põem em contato com fazendeiros e empresários.

 

A pergunta do milhão: o que se está fazendo para erradicar este tipo de escravidão? Bastante pouco, recentemente Lula dizia: "É uma vergonha, mas lamentavelmente ainda temos escravidão; devemos colocar na prisão aos empresários que ainda não sabem que acabou a escravidão no Brasil". Mesmo que teoricamente se castiga com até 08 (oito) anos de prisão aos escravistas, na prática a muito poucos se lhes iniciou processo por esse delito, o pior que lhes pode passar aos empresários e fazendeiros quando se lhes encontra em flagrante delito, é que apareça na "lista negra", isso quer dizer que se lhes põe uma multa e se lhes suspendem os créditos bancários durante dois anos.

 

Por que não se aprova uma a lei que possa autorizar a expropriação das terras em onde se encontram a escravos e se destinam para a tão necessitada reforma agrária? Porque no Congresso Nacional Brasileiro existe um número muito importante de legisladores que defendem essa prática e, sobretudo uma elite com muito poder que faz com que a escravidão seja invisível. Enquanto Lula somente se limite a reconhecer e a condenar a escravidão no Brasil e a sociedade civil feche os olhos frente a esta situação à liderança do Brasil seguirá com essa tarefa pendente.

 

Fran Espinoza é Politologo, graduado na Universidade Rafael Landivar (Guatemala), Mestrado em Estudos Internacionais de Paz, Conflito e Desenvolvimento, Universidade Jaume I, Castellón (Espanya), doutorando em Estudos Internacionais e Interculturais, Universidade de Deusto, Vizcaya, Espanha. Contatos: espinoza.fran@gmail.com

*Os textos publicados neste espaço são de responsabilidade única de seus autores.

 

Comentários

05/01/10 - Antonio Santiago

Olá Fran! A questão da escravidão infelizmente é uma realidade no Brasil!

Tenho um amigo que é advogado e trabalha no Maranhão (estado que a Raquel nasceu). Recentemente ele entrou em contato comigo por que tinha encontrado sergipanos e guianeses sendo "trabalhando" lá no interior do Maranhão! O fazendeiro pagava pouquíssimo e os trabalhadores acumulavam dívidas dos instrumentos de trabalho que só aumentavam...

Ou seja, o escravo recebia muito pouco, pagava pelos instrumentos de trabalho na terra do fazendeiro, devia pela comida e ainda chegava ao fim do mês devendo mais do que quando chegou para trabalhar! Enfim, ..., vergonhoso! Tenho uns amigos na imprensa e vou sugerir que eles filmem e escrevam algo sobre isto!

..., mas sei que é complicado por que, como você mesmo disse, muitos políticos são os donos das terras e dos meios de comunicação ! ... os que escravisam. Você pensa que podemos fazer algo para mudar isso ? !!!
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Antonio Santiago

 

06/01/10 - Fran Espinoza

Olá Antonio,

Muito obrigado por tua mensagem. Respondendo a tua pergunta, começarei com outro pergunta se não somos nós mesmos os que fazemos as mudanças quem o fará?. Certamente, nós podemos fazer muito desde nossos espaços, por exemplo, para meu Universo Político, é um espaço para questionar, refletir e propoer.

O mesmo faço quando tenho conferências ou classes na Universidade, o mesmo fiz com o Forum dos jovenes afrodecendientes que organizei em Aracaju, o mais importante é desenvolver nossa consciência e compartilhar com nossos amigos, claro não trata-se de só de falar, trata-se de fazer, eu me estou formando para ter maiores espaços de ação.

Um abraço, Fran