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Detetive conta que políticos em Sergipe pedem varreduras e buscam provas contra opositores
A maioria dos casos é para desvendar supostas traições afetivas, mas na política há serviços que rendem denúncias
Detetive conta que políticos em Sergipe pedem varreduras e buscam provas contra opositores

Por Raissa Cruz

 

Profissional na área de investigação há mais de 22 anos, o detetive Souza como é conhecido, conta em entrevista ao portal NaPolítica um pouco da sua experiência em Sergipe, com casos envolvendo desde pessoas comuns a autoridades. Ele afirma que a maioria o procura para desvendar traições. “A gente usa rastreador, aparelhos de escuta, faz campanha fixa seguindo. O contratante dá algumas ideias da rotina do alvo e acompanhamos”, disse. E cita também que muitas vezes é contratado para descobrir irregularidades praticadas por funcionários no trabalho. Mas já entre os políticos, a busca, segundo ele, é por varredura de locais de reuniões, descoberta de telefones grampeados e até colheita de provas sobre irregularidades que um opositor esteja cometendo. “Muitos políticos nos procuram para verificar se o candidato “a” ou “b” está fazendo compra de votos. E daí o contratante usa a prova para levar à justiça eleitoral como denúncia”, conta ele. Confira mais:

 

Dos casos que você acompanhou houve algum que chegou a contribuir para uma decisão do judicial?

Uma vez resolvemos um homicídio. Conseguimos uma confissão do investigado assumindo que tinha cometido um homicídio. Isso foi passado para o advogado da família e isso facilitou à prisão do culpado. Levamos material de gravação com áudio e vídeo.

 

E casos de problemas conjugais... Atualmente são os casos mais procurados, não é? Mas há uma quantidade grande de autoridades ou personalidades importantes que buscam esse serviço? Como é o procedimento?

Sim. Tanto pessoas comuns, como autoridades, juízes, delegados, políticos e outros, também nos procuram. Há muitas situações envolvendo trabalho em empresas, mas a maioria são situações conjugais. Na grande parte o trabalho é o mesmo. A gente usa rastreador, aparelhos de escuta, faz campanha fixa seguindo. O contratante dá algumas ideias da rotina do alvo e acompanhamos. Terminamos os casos muitas vezes com sucesso, mas muitas vezes não tem nada daquilo que o contratante especula. Tanto que muitas chegam a tentar investigar, e como não conseguem chamam o detetive. Há casos de pessoas, inclusive, que simulam a traição. Pessoas que saem de casa e não falam para onde vão já para deixar a insegurança. Já investiguei casos que a pessoa ia pra casa da mãe ou alugava um apartamento para se esconder, deixando a dúvida. Mas realmente há muitos casos que são comprovadas as traições.

 

Poderia recordar aqui um caso?

Teve um caso envolvendo um delegado... Ele nos contratou para investigar a esposa, e até contratou um policial civil para seguí-la também. Cheguei a pensar que era eu quem estava sendo seguido. Na apuração, certa vez, uma viatura chegou a ser enviada para o motel onde estávamos investigando a esposa do delegado. Mas ela só deixou o lugar depois que a viatura saiu. Fui chamado pelo contratante que perguntou se eu estava ficando maluco, porque sua mulher havia dito que estava fazendo um bolo na casa de sua mãe, que, por sua vez, também confirmou. Pedimos, então, que ele chamasse o policial que também a seguia, e quando ele foi questionado se a mulher traia, a resposta do policial foi “não sei”. Bastou isso, para o delegado mesmo mordido pagar pelo meu serviço. Era óbvio que sim... Está ocorrendo muitos casos também de suspeita de homossexualismo, partindo tanto de mulheres, quanto de homens.

 

Você falou que há uma busca por situações trabalhistas... Seria sobre fidelidade do funcionário no local de trabalho ou simulação de doença para obter licenças, por exemplo?

Sim, as duas coisas acontecem muito. Somos chamados várias vezes para o tipo de serviço que o funcionário está encostado e continua recebendo dinheiro da empresa, mas a empresa fica sabendo que o sujeito está trabalhando normalmente em outro lugar já. Tem muitos que chegam às audiências trabalhistas de muleta. Pegamos um caso que a pessoa disse que perdeu o pé e a visão em um estouro de uma bomba de uma pedreira, quando na verdade descobrimos que a pessoa estava jogando bola e andando a cavalo. A empresa conseguiu ganho de causa com nossas provas.

 

E na política em Sergipe, quais os principais serviços contratados?

Os políticos costumam alugar ou comprar equipamentos talvez para se protegerem uns dos outros. Eles buscam equipamentos de escuta, para registrar o que estão conversando, também pedem para fazer uma varredura no local onde vão trabalhar ou fazer reuniões. Sempre verifico se tem algum equipamento eletrônico que possa registrar uma conversa ou algo do tipo. Buscam também verificar se o telefone tem algum grampo. Não posso dar detalhes sobre aqui, mas teve um caso de um senador de Alagoas que nos chamou para fazer uma varredura em um local, e descobrimos que algumas câmeras foram colocadas na sua casa pelo jardineiro que fazia o serviço lá.

 

Há pedidos de investigação de um político sobre outro?

Sim. Muitos nos chamam apenas para buscar as provas de algo que já se desconfiava, como a compra de votos. Ou para procurar outras falhas. Apesar do Ministério Público está trabalhando com muito rigor nas apurações, principalmente, em período eleitoral, muitos políticos nos procuram para verificar se o candidato “a” ou “b” está fazendo compra de votos. E daí o contratante usa a prova contra seu opositor para levar à justiça eleitoral como denúncia.

 

Tendo em vista o nível de apuração que vocês investigadores fazem, você confirma que hoje usando a internet ou o celular, o cidadão está vulnerável a acessarem suas particularidades?

Sim. Hoje, infelizmente, nada é mais seguro, principalmente, internet e celular. Pouco tempo atrás alguns presidentes souberam que estavam sendo vigiados de outro país. Só por ai já se vê a vulnerabilidade do sistema. Se você consegue entrar no e-mail e linha telefônica de uma ministra, talvez nem o Obama esteja seguro. Por isso, temos que tomar muito cuidado com a internet. Pegamos um caso, certa vez, de uma pessoa daqui do interior que deu mais de R$ 2 mil a uma pessoa em São Paulo que se passou por conhecido dela. Na rede social o cara descobriu todos os dados dela e se passou por um professor. Conquistou ela e depois de conseguir o dinheiro sumiu. Detalhe, ela me contratou só para saber se o cara estava vivo, mesmo tendo sido lesada. Ela tinha recebido um e-mail dizendo algo como: meu amigo pediu que avisasse que enfartou e está no hospital, se ele voltar bem falará contigo. O cara tentou, com isso, afastá-la de vez, mas ela desesperada nos procurou. Fiz todo o levantamento em São Paulo e chegamos até o endereço do IP(servidor do computador) que enviou o email. Não era o primeiro golpe que esse cara havia dado, ele era acostumado a isso, já tinha feito muitos. Com esse caso até contribuímos com a polícia de São Paulo nas investigações contra ele. Já a moça, perdeu um bom dinheiro, perdeu seu tempo se dedicando a um sentimento que não existiu, e até a sua filha havia sido iludida pelo cara da internet. Então, quero advertir as pessoas em relação a isso.

 

Você deve correr muitos riscos, não tem receio quanto à profissão?

O trabalho é cansativo. Ficar em um lugar por muito tempo cansa. Você pega uma campanha de quatro ou cinco horas olhando para o mesmo lugar o tempo todo, é uma loucura. E tem os riscos comuns, porque você está exposto aos assaltos ou às batida policiais, e ainda os riscos devido ao envolvimento nos casos. Mas fazemos de tudo pra nos precaver.

 

Existe uma técnica especifica ou algo que você destaque quanto ao seu trabalho?

A gente trabalha com muita discrição e atenção. Então, tudo que foi visto deve ser relatado com certeza, e ninguém pode saber que estávamos por trás disso. Se bem que a gente adverte: desde que o mundo é mundo que alguém teve que investigar alguém. (risos)

Micro câmera: muito procurada  

 

Para concluir, pode nos contar mais alguma história marcante?

Teve um cidadão que me contratou para descobrir se a esposa o traía, porque ela se trancava no quintal quando ele estava em casa, e o marido passava vários dias sem entrar ali. Quando contei para ele o que era, quase não acreditou. A esposa está construindo em segredo no quintal uma estátua de São Jorge. Falei que o concorrente dele era forte. (risos)

Teve também uma história muito triste de um pai que abusava sua filha bebê... Até fiz esse caso voluntariamente, por ver a aflição da mãe. Usamos uma câmera secreta na casa e, infelizmente, foi constatado.

Outra situação muito curiosa foi de um senhor, há época com 60 anos, que namorava uma mulher de 21 anos. Todos os lugares que ela estava ele queria ir atrás, então ele me pagava para seguí-la e ligar para ele avisando onde ela estava. Normalmente, ela estava entre amigos da faculdade apenas conversando. Passamos 30 dias investigando. Chegou a ficar estranho ele aparecendo de repente em todo lugar que ela estava. Nesse trabalho chegamos a ir à São Paulo também porque ele pediu para vigiá-la em uma viagem que ela fez. E até infiltramos uma pessoa no meio dos amigos dela para estar sempre próximo mas ela não mostrava nada demais, só queria estar perto de pessoas da idade dela. No final das contas ficou mais do que provado para meu cliente que a moça não tinha amantes, ela realmente gostava dele, só queria conversar e fazer coisas que ela achava que não cabia fazer ou conversar com ele por ser muito mais velho. Mas conseguimos dar fim as dúvidas dele. Fiquei sabendo, inclusive, que até hoje eles vivem juntos e muito bem.

 

PS: Antes de nossa redação se acumular de emails de pessoas procurando pelo detetive, o Souza deixou o telefone do Conselho dos Detetives de Sergipe para maiores informações: (79) 3043-3347. Até a próxima, internautas! 

 

Da redação NaPolítica