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América Central: Entre conflitos e esperanças de paz.

América Central com uma população de aproximadamente 41, 000,000 milhões de habitantes em uma superfície 523,780 quilômetros quadrados. Palco de numerosos conflitos, muitos deles acompanhados dos piores atos de violência vividos na América Latina, palco também de números esforços por iniciar a construção da paz.

 
Há duas semanas Pompeu de Toledo publicou um artigo em uma revista brasileira de bastante circulação O absurdo chamado Honduras, provocador desde a primeira até a última linha, ele inicia questionando o nome de Honduras para um país. Repetidas vezes se pergunta um país chamado Honduras? Um país com o nome de Honduras?

 
O anterior lhe serve como sustento para demonstrar sua idéia da América Central, a descreve como uma aberração, um erro geológico. “Sem ela os oceanos Atlântico e Pacífico teriam uma ampla comunicação. Se tivesse evitado o drama da construção do o Canal do Panamá…” Também questiona a divisão de sete países em um território tão pequeno e com pouca população.  
 
Posteriormente, o autor destaca a alta agitação destes países, guerras civis a de El Salvador e a Nicarágua ou guerras de uns com outros, tomando como exemplo a guerra do futebol entre El Salvador e Honduras do ano 1969. 
 
Pompeu de Toledo, não fez referência ao conflito armado interno da Guatemala, possivelmente pelo pouco espaço que lhe deram para escrever na revista, porque ali tivesse encontrado suficiente informação para confirmar qualquer idéia do que conflitivo que é essa região. Calcula-se que durante os 36 anos de conflito armado interno na Guatemala assassinaram a aproximadamente 200 mil pessoas, na sua maioria indígena, essa informação foi graças à publicação da Comissão para o Esclarecimento Histórico, CEH, com suas dificuldades e críticas, continua sendo um referente para trabalhar a reconciliação naquele país.

Em qualquer análise que se realiza sobre a América Central é importante considerar suas particularidades, assim como suas diferentes realidades, com um espaço geográfico pequeno e com uma população relativamente pequena, não é recomendável falar da América Central como um todo, mesmo que esses países compartilhem algumas características comuns.  
 
Para ninguém é um segredo que ali se cometeram e ainda se seguem cometendo as piores violações aos direitos humanos, pretensões de eliminar a povoações inteiras com a justificação que poderiam ser aliados da guerrilha no caso da Guatemala ou do contra revolução no caso da Nicarágua. Os países Centro-Americanos foram um lugar de sofrimento, repressão, torturas, fechamento de espaços de participação política, exclusão, racismo e um sem número de fenômenos que caracterizam a violência que pode chegar a desenvolver o ser humano.

 

A percepção da realidade Centro-Americana não tem mudado muito, contínua estando nos primeiros lugares de pobreza, corrupção e impunidade. Por outro lado em Honduras acaba de dar-se o último dos golpes de Estado ocorrido na América Latina.

 
A situação dos indígenas, camponeses e povoações afro-americanas não têm melhorado significativamente. Além disso, à Guatemala, Honduras e El Salvador se lhes acusa de não implementar políticas contra o feminicidio, que de acordo à Comissão de Direitos Humanos Hispano-Guatemalteca –CDHHG– só na Guatemala nos últimos mais cinco anos de 3.500 mulheres foram assassinadas de forma violenta e em à Nicarágua revolucionária se contínua com o discurso “anti-imperialista” usando a repressão para não assumir uma nova concepção do mundo onde se inclua uma análise científico e socioeconômico de seus realidades.

Esperanças de Paz

 
 
Entre os anos 1982 a 1986, os governos militares, promoveram uma política externa que buscava informar ao mundo a importância da paz. Mas ao mesmo tempo se pretendia buscar uma saída aos conflitos armados da Nicarágua, El Salvador e a Guatemala. Além disso, os centros americanos no exílio realizaram um importante trabalho de denúncia sobre as graves violações aos direitos humanos que se estavam cometendo nesses países.  
 
Em um contexto de incipiente democratização, a metade dos anos 80, se anuncia a vontade dos governos para buscar uma saída aos conflitos e guerras. Promoveu-se uma solução negociada nos casos da Guatemala e El Salvador e eleições livres no caso da Nicarágua, esses processos estiveram apoiados pelo Grupo de Contadora, A Colômbia, o México, a Venezuela e Panamá, também colaboraram os governos europeus e outros blocos políticos. Um fator que ajudou a promover a negociação dos conflitos armados pela via diplomática foi a conjuntura mundial desse momento, a derrubada da União Soviética e por tanto o fim da Guerra Fria.

Concretamente o processo de pacificação inicia em agosto de 1988, com a reunião de Esquipulas II, estando representado os cinco países Centro -Americanos pelos seus respectivos presidentes, encorajados pelo Grupo de Contadora e o Grupo de Apoio em favor da Paz.

 
É a partir dos anos 90 que se começa a viver e sentir a Paz Negativa, entendendo-se como o processo de pacificação e posteriormente a ausência das guerras. A região centro americana aprendeu a desejar a paz inclusive nos piores momentos dos conflitos armados.

Sim, a história Centro americana se há caracterizada por conflitos onde a violência foi uma das ferramentas para buscar possíveis soluções e “para alcançar a paz”, e desde ali se desejou a paz, então agora é necessário começar a trabalhá-la desde a não-violência, sobretudo na atual a América Central post-conflitos vai ter que dar esse –giro- na forma de pensar e de atuar, um trabalho bastante difícil, porque permitimos que a violência se aproprie de nossa forma de pensar. Para trabalhar a paz desde a não-violência, a paz não se tem que conceber como algo acabado, mas como um processo em construção no qual se necessita pensar e atuar no dia a dia e que requer a participação da sociedade em conjunto.

 

É fundamental que a horrível "paz de cemitério", muitas vezes forjadas pelas ditaduras, nâo encontre lugar entre aqueles que escolheram intransigentemente o caminho a liberdade, exato por acreditarem no projeto de uma educação transformadora possibitada pela força da ideais democrático. Todo consenso é uniformidade, e a uniformidade é antievolução,a quebra do fluxo dialético básico da vida. Regis de Morais, 1987.

 

Fran Espinoza

Politologo, graduado na Universidade Rafael Landivar (Guatemala), Mestrado em Estudos Internacionais de Paz, Conflito e Desenvolvimento, Universidade Jaume I, Castellón (Espanya), doutorando em Estudos Internacionais e Interculturais, Universidade de Deusto, Vizcaya, Espanha.