Universo Político.com

MARCA-TEXTO -
CUT: Déda reproduz política de João de não tratar bandido com bala de chocolate
“Bandido não se trata na bala. Bandido você trata com política pública”, diz presidente Dudu
CUT: Déda reproduz política de João de não tratar bandido com bala de chocolate

Por Joedson Telles

 

O professor Rubens Marques, o professor Dudu, que preside a Central Única dos Trabalhadores em Sergipe (CUT/SE), avalia que o trabalhador brasileiro tem sido vítima de desculpas pífias dos seus patrões para não corresponderem às suas expectativas. Dudu, nesta entrevista, avalia a atuação do governo Déda neste terreno e encontra um elo de ligação para outras áreas, que também não estão contemplando os trabalhadores. “O servidor do Estado tem sido penalizado neste segundo mandato do governador Marcelo Déda. Um governo que, honestamente, se não tomar muito cuidado, se não usar o tempo que resta para investir em política pública, no capital humano vai deixar a marca do desenvolvimentismo”, diz. O presidente da CUT/SE, criticando, sobretudo, a política de Segurança Pública do atual governo. “Se Déda convida um secretário que foi secretário de João, e João disse que não se trata bandido com bala de chocolate, então ele está dizendo que faz o mesmo”, diz referindo-se ao delegado João Eloy, secretário de Segurança Pública.

 

 

Mais um 1º de maio. O trabalhador tem o que comemorar ou somente protestar?

Nós últimos dois anos, aqui no Brasil, os trabalhadores têm lutado para manter direito. Os avanços foram mínimos. A lógica patronal é se aproveitar da crise criada por eles para tentar jogar a conta nas costas do trabalhador. É difícil sentar com o patrão para ele não falar em crise. Um exemplo simbólico é a questão dos professores, aqui em Sergipe: dois anos sem um centavo de aumento. Então, temos o esforço para tentar avançar, mas, no máximo, o que conseguimos é manter direito. Eles pegam como parâmetro a Europa, mas o Brasil é diferente. Aqui não têm os mesmo problemas. A receita não caiu, principalmente no poder público. Aqui em Sergipe, mesmo, é só comparar mês a mês, que vamos ter um crescimento, principalmente em arrecadação de ICMS.

 

 

O senhor citou a educação pública de Sergipe como exemplo. É um caso isolado, ou o senhor diria o mesmo de outras áreas do governo?

Não é só a educação, mas o servidor do Estado, como um todo, tem sido penalizado neste segundo mandato do governador Marcelo Déda. Um governo que, honestamente, se não tomar muito cuidado, se não usar o tempo que resta para investir em políticas públicas, no capital humano vai deixar a marca do desenvolvimentismo. Um governo não se faz só construindo pontes e estradas. Um governo se faz olhando ara aquilo que ele tem de mais valoroso: as políticas públicas. E passa pelos salários – os trabalhadores são os responsáveis pela manutenção dessa máquina. Então, não falo só de educação, mas de saúde, segurança pública, mobilidade urbana... É preciso que o governo mude radicalmente a forma de ver a sua gestão. Eu, se fosse o gestor, não queria essa marca, pois, historicamente, sempre combatemos os governos que só querem fazer obras para deixar o nome na história.

 

 

O senhor quer dizer, então, que, neste aspecto, o governo atual não difere dos governos de direita de Albano Franco, João Alves e do próprio Valadares, que governou filiado ao antigo PFL, hoje DEM?

Este governo tem muitos elementos do conservadorismo. Por exemplo: não dialogar com os movimentos sociais, sindicais. Isto é uma postura de um governo conservador. Fazer opção pelo desenvolvimentismo é ou não é um elemento forte do conservadorismo? Então, em muitos aspectos um governo é igual ao outro. Não quebrou muitos vícios de governos passados, como usar o dinheiro público para apadrinhar os amigos. Aliados políticos. Isto para mim é uma tragédia.

 

 

Existe isso no governo Déda?

Claro que existe. Faça uma pesquisa na Casa Civil. Sou radicalmente contra secretário adjunto. É um instrumento para apadrinhar. Qualquer Estado sobrevive sem secretário adjunto. Se você tem um secretário que atue e o seu corpo gerenciador, não é preciso secretário adjunto. O governo não rompeu com isso. O governo poderia ter feito fusão de secretarias. São elementos conservadores.

 

 

Há tempo para reverter este quadro nebuloso que o senhor pinta?

Dá tempo, mas não acredito que o governo queira. O governo fez uma opção. Não estou dizendo que sou contra a construção de pontes e estradas. Agora, entre as obras e as políticas públicas, fico com as políticas públicas. Acho uma piada se falar em turismo aqui. Veja a orla. Tirando a de Aracaju que é muito bonita, uma das melhores, e olha que conheço boa parte (do Brasil), não existe infra estruturar. Você chega ao Abaís parece terra arrasada. Pirambu, Caueira e Saco o mesmo problema. Então, estamos falando de qual turismo? É a marca do desenvolvimentismo. Concreto e cimento. Menos salários, menos educação, menos saúde e menos segurança. Por falar em segurança, se você fizer uma analise fria, ele reproduziu o governo de João, que a gente criticou a vida inteira, que era uma polícia truculenta, que desrespeitava os direitos humanos. Quando Déda chega ao poder e convida o ex-secretário de João Alves (o delegado João Eloy) para dirigir a pasta está dizendo que concordava com tudo que no passado a gente criticava. Numa das raras reuniões que a CUT teve com o governador Marcelo Déda, no primeiro ano do seu governo, eu perguntei qual era a marca da segurança do governo dele e ele não respondeu.

 

 

Por que o senhor acha que ele não respondeu?

Porque não tinha. Vai fazendo um ensaio aqui, um ensaio ali. Acho que o gestor tem que ter posição. Quando ele convidou o primeiro secretário, Kércio Pinto, ele tinha uma metodologia. Você poderia até descordar, mas tinha uma metodologia. Uma forma de ver a segurança. Então, a partir das críticas que começou a receber, acabou retroagindo. E colocou um secretário linha dura – João Eloy. Mas essa linha dura vai na contra mão dos direitos humanos, uma marcada do PT. Bandido não se trata na bala. Bandido você trata com política pública.

 

 

O senhor está afirmando que o governo Déda trata bandido à bala?

Se ele convida um secretário que foi secretário de João, e João disse que não se trata bandido com bala de chocolate, então ele está dizendo que faz o mesmo.

 

 

O que trabalhador pensa sobre a polêmica do Proinveste?

O governador não conseguiu aprovar o Proinveste ainda porque encaminhou mal lá atrás. Se perdeu por conta da arrogância. Digo aqui três pontos que arrastam o Proinveste até agora, e que se não fosse a interferência de Dilma (Rousseff) acho que ele não seria aprovado. Primeiro ponto: Déda subestimou a Assembleia, onde ele tem minoria. Como é que você governo com minoria e, simplesmente, discute em seu gabinete o destino das verbas do Proinveste? E a Assembleia não merecia ser chamada para dialogar? Mas ele desprezou isso. Fez o projeto e mandou. Eu não tinha dúvida que seria reprovado. Segundo ponto: não fez uma interlocução com a sociedade. Ele não fez uma coletiva com a imprensa. Ele escolheu uma emissora de rádio, colocou em cadeia com aquelas que interessavam e falou o tempo inteiro, isso depois que a crise já estava instalada. Há concorrência de jornalistas. Deveria ter chamado todos. Nada contra a emissora escolhida, mas deveria ter chamado toda a imprensa e debater o projeto. Se houvesse resistência da Assembleia, ele teria o aval do povo. Você viu alguém do povo ligar para defender o Proinveste? Ficou só. Terceiro: como é que o Proinveste que vai gerar emprego, mas, em nenhum momento, nenhuma central sindical foi chamada para discutir? Será que CUT não tem o que dizer num debate de criação de emprego e renda? Falar sobre a qualidade do emprego a ser gerado? No PAC, Dilma não ouviu a CUT, mas depois reconheceu o erro: as empresas estavam escravizando trabalhadores no Pará. Trabalhador comendo ração. Na licitação precisar ficar claro: ‘você tem que tratar o trabalhador com respeito, porque, senão, o contrato será rescindido’. Aqui em Sergipe, gostaria de saber quais empregos. Quem vai formar a mão de obra? Queríamos opinar. Mas o governo só procurou a CUT quando a crise já estava instalada. Com a matéria reprovada. Chico Buchinho esteve aqui para pedir autorização e colocar a marca da CUT no outdoor do Proinveste. Eu disse que não, porque a CUT não foi convidada para discutir o projeto.

 

 

Fatos como este de negar apoio ao Proinveste e entrevistas como esta que o senhor está concedendo contrariam interesses. O senhor não teme retaliações? O contraditório nem sempre é aceito...

Aceito coisa nenhuma. Mas quando assumi a direção da CUT foi com a clareza que autonomia não se negocia. Eu não vou perguntar ao PT nem ao governo o que a CUT tem que fazer. Cada um com o seu quadrado. Eles gostado ou não, vou continuar dizendo o que penso. Se não você termina o mandato desmoralizado. Minha opção é: a CUT é um patrimônio da classe trabalhadora. Acabou. A CUT é uma ferramenta de defesa dos trabalhadores, e quanto a isso não abro mão. Se tem gente que gostar ou não, para mim, faz pouca diferença. Nunca pedi nada ao governo. Não precisamos do governo. Eu quero que o governo atenda às expectativas do povo.

 

Da redação Universo Político.com