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PAULO -
Derrota na votação do Proinveste escancara a fragilidade de um governo que não disse a que veio
Derrota na votação do Proinveste escancara a fragilidade de um governo que não disse a que veio

Em casa onde falta pão, todos gritam e ninguém tem razão, diz o adágio popular que cai como uma luva para o quadro político vivido no estado atualmente, onde governo e oposição andam às turras em razão do Proinveste, o primeiro vendendo-o como a salvação da lavoura contra a seca e geada, a segunda apontando-o não só como um entrave para os governos subsequentes, mas como um fardo a ser carregado por toda a sociedade por duas longas e sofridas décadas.

 

O pior é que, abstraindo-se o componente meramente político que permeia esse tipo de discussão, não há como negar certa razão tanto a um quanto a outro grupo. Se não chega a ser a redenção pretendida pelos governistas, o Proinveste configura o auxílio que o estado necessita para reequilibrar as suas periclitantes finanças. Por outro lado, a considerar-se a delicada conjuntura econômica mundial, com reflexos negativos tanto nos países ricos quanto nos emergentes, aliada à letargia e incompetência de Guido Mantega e sua equipe, não se enxerga no horizonte qualquer sinal de recuperação da economia do país a curto ou médio prazo, a significar a diminuição dos repasses do governo federal aos estados a título de FPE, justamente o fundo dado como garantia para o empréstimo tomado ao BNDES.

 

Parece, contudo, que apesar do debate seguir acalorado e prometer novos e emocionantes capítulos, já não vale a pena chorar pelo Proinvest derramado.  Que fazer, então, nesse momento de perplexidade e frustração? Arrumar as finanças, aceitar a derrota com humildade e buscar o diálogo com vistas a um novo entendimento para 2013, ou, ao contrário, promover um caça às bruxas? O governo, tudo leva a crer, já fez sua opção. E insistiu mais uma vez no erro. A ordem agora é atacar a oposição, tentar pespegar nos deputados que votaram contra o empréstimo “redentor” a pecha de traidores, politiqueiros, inimigos dos interesses do estado e da sociedade, de quem o futuro há de cobrar, com juros e correções monetárias – com perdão do trocadilho –, a maldade de hoje.

 

Não me parece ser a atitude mais sensata. A novela do Proinveste, de roteiro pedestre e final previsível, não passou de uma pantomima encenada por atores canastrões. Até a Velhinha de Taubaté sabia que, colocada a proposta em votação, o governo seria derrotado. Não porque a oposição seja insensível, como querem alguns, ou porque adote a estratégia da terra arrasada, conforme apregoam outros. É porque o empréstimo, embora seja de grande valia para o estado, não é algo essencial, vale dizer, dele não dependem o bem-estar do povo, a manutenção dos serviços básicos, o desenvolvimento e conclusão das obras estruturais, a valorização profissional dos servidores públicos, o equacionamento dos problemas crônicos de segurança pública, saúde e educação, por exemplo. Numa palavra: serve mais ao governo do que ao estado, sobretudo quando se tem em mira o processo sucessório de 2014.

 

Mas sejamos realistas e façamos a seguinte pergunta: o Proinveste, seja qual for a sua importância, teria sido aprovado se o governador Marcelo Déda não tivesse defenestrado o grupo político liderado pelos irmãos Eduardo e Edvan Amorim após a polêmica eleição antecipada da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa? A resposta parece ser óbvia: é evidente que a bancada liderada pelos irmãos Amorim teria votado a favor do empréstimo. Da mesma forma que o fizeram os nove deputados que permanecem na base governista. Simples assim. E o fato de os deputados oposicionistas terem rejeitado a proposta, dada a atual conjuntura, os torna menos dignos? Claro que não! E isso só reforça o entendimento de que, numa democracia, por mais legítimo que seja o interesse do Executivo, o Legislativo não pode ser ignorado, humilhado, desprezado, aviltado em sua independência. Não é tratorando aliados ou adversários que se faz um governo bem-sucedido.

 

E aqui que entra em campo o componente político, que vale mais que mil relatórios e projetos técnicos.  Ao enxotar os Amorins da sua base, menosprezando aliados históricos como os deputados Maria Mendonça (PSB), Adelson Barreto (PSB) – até então sob a liderança do senador Valadares (PSB) - e Gilmar Carvalho (PR), Marcelo Déda deu um tiro no pé e inviabilizou de uma vez por todas o seu governo, que, convenhamos, já não vinha bem das pernas. Uma vez nas fileiras da oposição, esses e outros deputados votam como bem entenderem, e não é com gritos, acusações e ameaças que as coisas tomarão outro rumo.

 

Além do mais, é público e notório que Eduardo e Edvan sempre foram tratados pelo governo como aliados de segunda categoria. Julgando-se moral e eticamente superiores a ambos, os integrantes do governo aceitaram o acordo com o grupo, mas com reservas – pois precisavam dos votos que hoje tanta falta lhes faz. Contudo, no momento em que Eduardo Amorim conquistou uma cadeira no Senado e colocou-se como possível candidato ao governo em 2014, embora nunca tenha feito uma só declaração nesse sentido, acendeu uma luz amarela nas hostes governistas. Pouco a pouco, a razão e o bom-senso - os melhores conselheiros políticos - foram sendo substituídos pelo medo e pela prepotência, de maneira que a colheita de hoje é apenas resultado da semeadura de ontem.

 

O governo Déda está chegando ao seu penúltimo ano. O resultado, até agora, é pífio... muito aquém do esperado. Quem pensou que iria ver um Ayrton Senna no comando do estado teve de se contentar com um Rubinho Barrichello com pose de Michael Schumacher. O Proinveste não veio, o riso não veio, não veio a utopia, e tudo acabou, e tudo fugiu, e tudo mofou, diria o poeta itabirano.

 

Mas, olhando bem, a administração atual (aos mais apressados e maldosos, esclareço que a palavra administração é tomada como sinônimo de governo, sem qualquer alusão, direta ou indireta, ao seu titular, por razões éticas e humanísticas que não precisava ter de explicar não fossem certas cavalgaduras que habitam entre nós) mais lembra outro poema - Pneumotórax, do grande Manuel Bandeira:

 

“Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos

A vida inteira que podia ter sido e não foi.

(...)

Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?

 – Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”

 

 

 

 

PAULO MÁRCIO é Delegado de Polícia Civil desde 2001. Especialista em Gestão Estratégica em Segurança Pública (UFS) e em Direito Penal e Direito Processual Penal (Fase). Foi Presidente do Sindepol-SE, Superintendente de Polícia Civil de Sergipe, Corregedor Geral de Polícia Civil. Atualmente é titular da 10ª Delegacia Metropolitana.É colunista do portal Universo Político.com E-mail: paulomarcioramos@oi.com.br