Universo Político.com

SINDICALISMO -
Ana denuncia e sindicalista confirma processo de privatização dos Correios
"Não é aquela privatização de vender tudo. É precarizar o serviço", diz sindicalista
Ana denuncia e sindicalista confirma processo de privatização dos Correios

 

Por Joedson Telles

 

O presidente do Sindicato dos Correios em Sergipe, Sérgio Lima, confirmou ao Universo Político.com que está em curso o processo de privatização dos Correios - como denunciou na tribuna da Assembleia Legislativa de Sergipe, na sessão de ontem a deputada Ana Lúcia (PT). "Não é aquela privatização de vender tudo e botar todo mundo no olho é rua. É precarizar o serviço. Transformar em várias subsidiárias, transformar os Correios em uma empresa de sociedade de economia mista e colocar na mão do capital particular a administração dessa empresa", diz.

 

UniversoPolitico.com - A deputada Ana Lúcia denunciou que está em curso o processo de privatização dos Correios. O senhor confirma isso?

Sérgio Lima- Está em curso de forma maquiada. A partir do momento que se abre espaço para criar subsidiárias, para criar parcerias privadas com empresas públicas, você também está abrindo espaço para privatização da empresa.

 

U.P.- Qual a situação hoje dos trabalhadores dos Correios?
S.L.-
A situação é que nós temos um concurso vigente de nível nacional, nós temos uma precarização de serviços e temos um baixo número de funcionários atuando. Então, a necessidade de contratação é grande. O concurso está em vigência, mas a empresa não contrata. Na contra mão dessa não contratação dos concursados, só aqui em Aracaju, nós temos 25 terceirizados, desqualificando ainda mais o concurso público nacional, desqualificando a qualidade dos serviços prestados à população. Essa prestação de serviços passa a ser uma prestação de serviços precária e leviana quando a empresa diz que nosso quadro está completo e a população continuar sem receber suas correspondências.

 

U.P.- A deputada denuncia também a retaliação do movimento grevista de vocês...
S.L. -
A empresa já disse que irá cortar os dias de greve, já disse também que vai suspender o nosso contrato com suspensão da prestação de serviço médico e odontológico. Então, isso é o cúmulo do absurdo, porque a assistência médica é uma necessidade essencial e não pode ser jogada como uma pressão aos trabalhadores.

 

U.P.- Há quanto tempo a categoria está em greve?
S.L.-
É o 8º dia de greve (ontem), mas nós temos a convicção de que no momento em que a empresa nos chamar para discutir estaremos prontos. Queremos voltar ao trabalho porque a mobilização não prejudica somente a população, mas sim a todos nós. A empresa liga para nossas famílias dizendo que vamos perder os nossos empregos, que não vamos receber salário no final do mês, que não podemos usufruir dos benefícios da nossa empresa. Todo final de semana prepostos da empresa ficam ligando informando que a greve já acabou, enquanto ela só está começando. Estamos dispostos a negociar com a empresa. Basta que ela se disponha a negociar com os trabalhadores.

 

U.P.- Além do que o senhor já colocou, tem algo mais em pauta?
S.L.-
A questão de segurança. Hoje a segurança nas agências, segurança do trabalhador dos Correios vem sendo jogada na lama a todo instante. Nós temos hoje 64 assaltos nas agências e cada vez que um trabalhador é assaltado ele tem que ser afastado durante 15 dias, a população já fica sem atendimento, e esses assaltos são reincidentes. Há agências que já foram cinco vezes assaltadas. O transtorno psicológico, o impacto na vida de cada um desses trabalhadores com certeza não é o mesmo. Se você foi assaltado cinco vezes com um revólver na cabeça e coronhada, com certeza quem entra, além de desestruturar você mentalmente, desestrutura a qualidade do serviço que você vai prestar à população.

 

U.P.- A discussão tem que ser em nível nacional...
S.L.-
Sim. A discussão é nacional, porém cada estado faz a sua avaliação de forma individual. Nós temos um comando nacional que tem como finalidade repassar a proposta da empresa e essa proposta é avaliada em cada Estado. Hoje, todo o país está em greve e, à medida que a empresa nos chama, a gente avalia de bate pronto a proposta da empresa, e no momento em que a empresa se predispor a conversar, a discutir com os trabalhadores, a gente volta. A nossa data base é dia 1º de agosto e já estamos em 22 de setembro. Então, é inadmissível que a empresa queira que a gente volte para trabalhar e depois começar uma nova discussão.

 

U.P.- O senhor trabalha há quantos anos nos Correios?
S.L.-
Eu tenho 13 ano de Correios, e ao longo desses anos nunca vi uma situação tão complicada no que tange a quantidade de funcionários. A empresa precisa de funcionários e lança plano de demissão voluntária. A empresa precisa de funcionários e faz um concurso e não chama ninguém. Realmente parece que é um crime premeditado não contratar, lançar plano de demissão voluntária e a população julgar a incompetência dos Correios não só em Sergipe como em todo o Brasil.

 

U.P.- O fato de vivenciar isso num governo oriundo da classe trabalhadora dá uma frustração maior ao trabalhador?
S.L.-
A gente se frustra, sim, com certeza. A partir do momento que você elege um presidente e ele na sua pauta de proposta diz que é contra a privatização de empresas públicas, contra a doação de empresas públicas, mas, infelizmente essa postura do governo está deixando a desejar. Está deixando a classe dos trabalhadores altamente frustrada por conta dessas medidas que estão sendo tomadas de forma prejudicial à nossa empresa e a população no Brasil.

 

 

U.P.- O senhor quer dizer incoerência?
S.L.-
Exatamente. Hoje temos novas modalidades de privatização. Não é aquela privatização de vender tudo e botar todo mundo no olho é rua. É precarizar o serviço. Transformar em várias subsidiárias, transformar os Correios em uma empresa de sociedade de economia mista e colocar na mão do capital particular a administração dessa empresa. A partir do momento que a administração particular toma conta da empresa, é o próprio capital particular quem irá definir quem se mantêm na empresa, quem é demitido, quem é contratado, se está dando lucro ou não, vai para o olho da rua.

 

Da redação Universo Político.com