Na Política

Biblia Online

Tamanho da letra

05/12 | 10:13h

Engenheira Eletricista após os 50

Não teve filho, marido, preconceito nem machismo que impedisse Sandra Azevedo de realizar os seus sonhos.

 

 A turma de Engenharia Elétrica de 2014/2 da Pio Décimo poderia ser apenas mais uma a se formar entre tantas outras que a cada semestre concluem o curso. Esse grupo, no entanto, contava com uma aluna especial. Aos 53 anos, Sandra Azevedo recebia o diploma, contrariando todas as expectativas. Para pegar o canudo, bateu de frente com o machismo, com diferentes tipos de preconceitos, com a falta de delicadeza e com as surpresas da vida, mas optou por desapontar quem esperava que desistisse. Sim, poderia ter sido mais fácil, mas ela acredita que foi como tinha que ser e diz que faria tudo novamente. 

Com orgulho de cada etapa vencida, ela aceitou conversar com o Tudo para Mulher e contar os momentos marcantes de sua trajetória a fim de deixar um recado a todas as mulheres: “corram atrás dos seus sonhos e busquem sempre aquilo que as façam felizes de verdade. Não abaixem a cabeça diante das barreiras. Sejam sempre determinadas, nunca se deixem humilhar nem dizerem que vocês não são capazes”, declara Sandra.

Toda essa força, ela começou a descobrir dentro de si quando ainda era uma menina. “Sou a primeira filha de um casal de nordestinos com três filhos. Quando completei sete anos, meus pais se separaram. Foi aí que começaram os meus problemas. Tive que cuidar dos meus irmãos, da casa e estudar. Passamos muitas necessidades, inclusive fome”, recorda. Natural de Santos (SP), Sandra mudou-se para Sergipe, onde a família materna residia, aos 13 anos. Atendendo aos costumes da época, no seu aniversário de 15 anos noivou. Antes dos 17 casou. Aos 18, deu à luz ao primeiro filho, que nasceu prematuro, aos sete meses. Nessa época, cursava a 8ª série do Ensino Fundamental (nono ano, atualmente).

Poucos meses depois, por conta do trabalho do marido, a família mudou-se para Manaus. Com sucessivos problemas de saúde da criança, ficou inviável continuar longe da família. Ao retornar a Aracaju com o filho, o casamento começou a entrar em crise e ela percebeu que não daria para continuar dependente. “Decidi que tinha que trabalhar, mas com pouco estudo, não conseguia nada. Voltei a estudar fazendo um curso técnico em contabilidade que substituía o 3º grau, conhecido como científico. Coloquei meu filho na escola e comecei a estudar, mas, antes de terminar o curso, engravidei novamente”, relata. 

No mês de agosto, faltando muito pouco para concluir o ensino médio, a criança nasceu. Ficou difícil conciliar os estudos e cuidar dos dois filhos. Mas uma vez, ela teve que adiar o sonho. Inquieta, no entanto, passado um ano e seis meses, a vontade de estudar falou mais alto e ela conseguiu autorização da diretora da escola, na qual o filho mais velho estudava, para deixar o pequeno também no local, a essa época, ainda um bebê. “Levava os dois à escola e ia fazer um curso de digitação”, lembra Sandra. O esforço valeu à pena. Terminado o curso, fez a prova para o Dataprev, passou e se tornou digitadora contratada. Meses depois foi efetivada.

Mas ela ainda não estava satisfeita. Matriculou-se um curso no Senai de eletrônica básica e passou a trabalhar como técnica em telecomunicações. “Nesta época, passei por muitos preconceitos, pois era uma profissão para homens. Nesse meio tempo tive uma menina. Estava com três filhos e divorciada após 18 anos de casada. Por conta do trabalho, precisei viajar muito e fazer cursos fora, tendo que deixar os meus filhos com empregada. Foi muito difícil fazer isso, mas tinha que ser pai e mãe deles”, conta. 

Aos 45 anos, após tantas lutas, com os filhos já casados e encaminhados na vida, ela ainda queria mais. Resolveu voltar a estudar. Fez vestibular para engenharia elétrica e passou de primeira. Acompanhar as aulas, porém, não foi tão simples. Mas nada que o reforço de um professor particular de matemática não resolvesse. Difícil mesmo foi enfrentar a torcida do contra. “Senti muito preconceito, alguns colegas diziam ‘quero ver até quando você vai aguentar’, dentre outras brincadeiras. No trabalho também sempre me diziam ‘essa profissão é para homens’”, relata. 

Apesar de nunca ter se sentido, verdadeiramente, integrada à turma, ela jamais pensou em recuar. “Em oito anos de faculdade nunca sai com os colegas de turma. Quando estávamos conversando sobre trabalho e eu contava como era o meu dia a dia, sentia que não acreditavam. Sabia que se perguntavam como uma mulher poderia estar falando com tanta naturalidade de um trabalho que é, essencialmente, masculino. Achavam que eu era homossexual, perguntavam se eu era casada, se tinha namorado, ficavam rindo, fazendo comentários indelicados”.

Mas Sandra estava ali para provar que era capaz a qualquer preço. “Estava decidida a mostrar que não existem barreiras nem preconceito quando queremos realizar os nossos sonhos. Hoje, aos 55 anos, mãe de três filhos e avó de quatro netos, aposentada e aguardando o desligamento da empresa, me sinto uma mulher realizada. Consegui mostrar a todos que não existe idade nem sexo para escrever uma nova história”, desabafa. 

Vivendo a melhor etapa da sua vida, Sandra agora só deseja curtir o que mais ama: praia, plantas, costurar e namorar. A opinião dos outros? É dos outros!! 

Mais textos dessa colunista no  tudoparamulher.net

 


 

Alessandra Franco é editora do Portal Tudo para Mulher - TPM.

Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Sergipe, antes de assumir o comando do tudoparamulher.net, atuou como repórter e editora do semanário Cinform. Foi assessora de Comunicação e de Imprensa do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Município de Aracaju - Setransp - e coordenadora de Imprensa da Secretaria da Comunicação Social da Prefeitura Municipal de Nossa Senhora do Socorro.

 




25-04-2024
 

 

 

Resultados - Elei��es

 

Setransp

 

Setransp

 

Setransp

 

 

Parceiros

 

 

Fazer o Bem

 

Ciclo Urbano

 

Adjor

 

Sindjor

 

 

Twitter