Boa parte das críticas endereçadas ao prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PCdoB), decorre mais da natural disputa política do que propriamente dos equívocos cometidos pela administração municipal, embora eles ocorram com maior ou menor frequência do que os registrados em outras administrações complexas como a nossa. Aliás, não é favor nem exagero dizer que, a um ano e meio de concluir seu mandato, Edvaldo já escreve seu nome na história como um administrador probo e eficiente, e que, apesar da origem e da ideologia abraçada ainda na juventude, não comprometeu sua gestão com ações populistas e irracionais, tão-somente para ganhar musculatura político-eleitoral – algo muito raro nos dias de hoje, em que alguns picaretas converteram a atividade política em um torneio de demagogia, cinismo e imposturas sem fim.

Mas Edvaldo, assim como a maioria dos administradores públicos, tem se saído irremediavelmente mal ao ter de lidar com a exposição de fatos que em certa medida maculam a imagem de seu governo. Exemplos notórios foram os recentes casos dos pardais e do lixo, ambos veiculados em rede nacional pelo Fantástico, da Rede Globo, cuja influência sobre a opinião pública vale por mil bancadas de oposição – e alguns aliados de contrapeso, porque ninguém é de ferro.

Meses atrás, o programa exibiu uma matéria mostrando uma série de fraudes praticadas por empresas que atuavam em municípios da região centro-sul do país, duas das quais haviam vencido uma concorrência e firmado contrato com a prefeitura de Aracaju para operar equipamentos de controle e fiscalização do trânsito municipal, sob a coordenação da SMTT. Ninguém esquece que, após defender com unhas e dentes a lisura dos contratos firmados pela PMA, Edvaldo findou vencido pela opinião pública e pela oposição, rescindindo os contratos.

Tal medida, que para o prefeito se mostrou a mais adequada ao cabo de semanas de desgaste e exposição, não poderia ter sido adotada na primeira semana seguinte à denúncia? É claro que poderia, e com a vantagem adicional de reforçar a imagem positiva do governo municipal, por atuar diligentemente em defesa do interesse público.

Contudo, se Edvaldo estava realmente convicto da licitude dos contratos, não obstante as fraudes denunciadas em rede nacional, a melhor estratégia teria sido peitar a oposição e tentar  a opinião pública para o seu lado, sem prejuízo de promover uma verdadeira devassa nos contratos, e, aí sim, rescindi-los posteriormente, em caso de comprovada irregularidade.

Como Edvaldo perdeu o timing para tomar a decisão, o discurso contra as empresas contratadas acabou servindo de argumento para os que, consciente ou inconscientemente, advogam a impunidade no trânsito. Até o presente, não há notícia de que outra licitação fora providenciada ou se a SMTT vai realizar todo o monitoramento eletrônico por contra própria. Sem falar na batalha em que consistirá a implantação de novos equipamentos eletrônicos, para sempre demonizados pelos nossos velozes e furiosos munícipes.

De maneira que, escaldado pela polêmica dos pardais, Edvaldo, colhido por mais uma denúncia do Fantástico, desta feita em relação à destinação do lixo de Aracaju, quis se antecipar aos fatos e veio a público açodadamente anunciar um projeto de aterro sanitário para a Grande Aracaju, em consórcio com os municípios de Nossa Senhora de Socorro e São Cristóvão. Tudo estaria perfeito – roteiro, cenário, som, iluminação, figurino, as claques de sempre -, não fosse o fato de o projeto ser ambientalmente equivocado, já que o bairro Palestina, em Socorro, local escolhido para hospedar o fabuloso aterro, não atende às condições exigidas em lei, como bem esclareceu o secretário estadual de Meio Ambiente, Genival Nunes.

Resta a impressão de que Edvaldo, nesse episódio, jogou para a plateia, ao anunciar um projeto previamente reprovado pelo órgão ambiental responsável. E, para piorar as coisas, anunciou que não tem um plano B, razão pela qual vai se valer de todos os recursos possíveis para levar adiante seu projeto civilizatório. Que ninguém interprete isso como ameaça, mas, se necessário for, nosso guerreiro comunista transformará a Palestina em uma verdadeira Faixa de Gaza.

Paulo Márcio é colunista do portal Universo Político.com

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